Nesse início de ano, faço referência ao ato realizado pelo presidente Lula em Brasília para celebrar a democracia e, mais uma vez, repudiar a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, com a invasão e depredação das sedes dos três poderes na Capital Federal. O ato foi muito importante, sobretudo no momento em que está sendo investigado novo plano de assassinato do presidente Lula e do ministro do Supremo Tribunal federal, Alexandre de Moraes.
A reafirmação da democracia também ocorre quando o dono da empresa Meta, proprietária do Facebook, Wahtsapp e Instagram, Mark Zukerberg, se alia ao multibilionário Elon Musk, dono da plataforma X, ambos norte-americanos e apoiadores do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para dizer que suas redes não mais farão checagem de conteúdo, fazendo críticas à justiça brasileira e de outros países. Com a participação dessas big techs no futuro gabinete de Trump, elas estarão no centro do poder mundial.
Bem faz o presidente Lula e autoridades judiciais brasileiras, sobretudo do STF, ao dizerem que nosso país tem Constituição, tem soberania e que, aqui, prevalecem as leis brasileiras. No momento em que escrevo esse texto o presidente Lula convoca uma reunião para discutir a postura de Zurkerberg e o ministro Alexandre de Moraes deixa claro que a justiça brasileira não irá tolerar que as redes sociais sejam coniventes com a propagação de discursos de ódio. Liberdade de expressão não é liberdade para agredir, ameaçar e organizar atentados à democracia.
Antes mesmo de tomar posse, Donald Trump afirma que pretende tomar à força o controle do Canal do Panamá, anexar a Groenlândia e até mesmo dominar o Canadá. A Dinamarca, à qual pertence a Groenlândia, assim como França e Alemanha, e a presidenta do México, Claudia Sheinbaum, já repudiaram as declarações de Trump.
Reafirmar compromisso com a defesa da democracia é fundamental frente a tantas ameaças que pairam sobre o nosso país e sobre o mundo todo. A democracia é a arte do diálogo e do entendimento e por isso é rejeitada por aqueles que, utilizando muitas vezes das possibilidades que ela abre, trabalham para destruí-la.
Minha concepção de democracia vai além da prerrogativa de votarmos e sermos votados. A democracia deve possibilitar liberdade de organização sindical e dos movimentos populares para garantir e ampliar direitos, numa sociedade desigual e concentradora de renda e privilégios.
Você pode estar se perguntando no que isso afeta a sua vida. Nós, que moramos no estado de São Paulo, podemos encontrar a resposta observando o que se passa à nossa volta. Desde que tomou posse, o governador Tarcísio de Freitas, alinhado à extrema-direita, tem realizado uma gestão voltada às pautas defendidas pelo bolsonarismo, sem priorizar, em momento algum, os interesses das parcelas mais pobres da população paulista. Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, o governador diz que São Paulo, na sua gestão, constrói um ambiente “mais favorável aos negócios”, deixando claro para quem governa.
Ao privatizar a SABESP e escolas estaduais, Tarcísio de Freitas favorece empresas, pouco se importando em como isso afetará os direitos da população e dos estudantes. Ao instituir escolas cívico-militares, o que conseguimos impedir até o momento e podem ser vetadas pelo STF, Tarcísio de Freitas e seu secretário da Educação, Renato Feder, só estão preocupados em impor a pauta militarista, seguindo suas prioridades ideológicas, e satisfazer interesses de policiais aposentados, sem nenhum compromisso com a qualidade do ensino. Ao cortar R$ 11 bilhões anuais da Educação, Tarcísio de Freitas deixa claro que essa área não é sua prioridade, como não é prioridade para a extrema-direita em todo o mundo, a não ser para formatar as mentes dos estudantes com seu viés ideológico e garantir mão de obra para o chamado “mercado de trabalho”.
A implementação das denominadas “plataformas digitais” como principal método do processo ensino-aprendizagem nas escolas estaduais de São Paulo visa reduzir a interação presencial entre professores e estudantes e cercear ao máximo as possibilidades de debates e busca de conhecimento. A extrema-direita quer uma juventude dócil, alienada dos problemas reais da sociedade, disposta a simplesmente acatar o que lhe é imposto, sem questionar. A “plataformização” do ensino, neste sentido, se torna harmônica com a decisão de Zukerberg de não mais realizar checagem sobre a veracidade dos conteúdos publicados em suas redes. Os jovens são transformados em meros consumidores de informações, acatando-as, assim como devem acatar a disciplina militar imposta nas escolas cívico-militares, sem instrumental e interesse em questioná-los.
É preciso reagir a tudo isso, cada qual da forma que estiver a seu alcance, defendendo educação pública de qualidade e a democracia contra os planos da extrema-direita.