O filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, com grande repercussão internacional, finalmente, estreia nesta quinta-feira, dia 7, nos cinemas brasileiros.

Vencedor da Palma de Ouro, em Cannes, por Melhor Roteiro Adaptado (Murilo Hauser e Heitor Lorega), “Ainda estou Aqui”, é uma adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. Em suas memórias, o autor revela quem de fato enfrentou a ditadura militar em sua família: a sua mãe Eunice Paiva.

Marcelo é filho do Deputado Federal Rubens Paiva (MDB), sequestrado e morto por militares, em 1971, conforme revelado pelo Relatório da Comissão da Verdade. Mas, por que o autor conta a história da sua mãe, se seu pai foi um líder político importante para a história do Brasil?

Eunice Paiva era uma dona de casa da classe média alta paulistana. Mãe de cinco filhos, viu sua vida ser transformada quando foi presa junto com seu marido. Ela foi liberada pelo DOPS um mês depois; ele nunca mais foi visto.

Além de assumir um novo papel na família, Eunice se tornou o rosto da luta pela busca de justiça para os desaparecidos políticos. Em 1973, já aos 40 anos, ingressou na faculdade de Direito, tornando-se advogada em defesa dos direitos humanos, especialmente na defesa dos direitos indígenas.

Clarice Herzog, viúva de Vladimir Herzog, uma das grandes vozes na luta contra a ditadura militar, cita que Eunice se tornou referência para as famílias dos desaparecidos. Nunca ser filmada chorando e sempre se posicionar na defesa dos militantes e de seu marido foi algo que Clarice também seguiu nos longos anos até o reconhecimento de que a morte de Vladimir foi um assassinato.

O livro narra as transformações brutais na família Paiva, passando pelo acidente de Marcelo, retratado em Feliz Ano Velho, que o deixou tetraplégico, pelos primeiros sinais de esquecimento de Eunice, até o diagnóstico de Alzheimer. A contradição de uma mulher que lutou tanto pela memória ser acometida por uma doença conhecida por afetar todas as nossas lembranças.

É uma história impressionante, marcada na história do país. “Ainda Estou Aqui” traz à luz aqueles que lutaram por muitos anos, além da ditadura, e que precisaram segurar as pontas sozinhos em suas casas, pelos filhos, pelos companheiros e pela própria vida. Esse é o caso de Eunice, Clarice, Ana Dias, Zuzu Angel e tantas outras. Elas mostram a face das mulheres que ficaram, mas que sempre lutaram.

Àqueles que se interessam pelo tema, segue algumas indicaçõe: “Zuzu Angel” (2006); “Madres da Plaza de Mayo – Memória, Verdade, Justiça” (2009); “Repare Bem” (2012) e “Torre das Donzelas” (2018).

Autoria
Thais Linhares é Cientista Social, com mestrado pela UNESP e Analista de Pesquisa. É colunista do CCN Notícias