Prestes a completar 60 anos em 2028, "2001: Uma Odisseia no Espaço" (1968) de Stanley Kubrick tem sido objeto de fascínio e estudo, um marco da ficção científica existencialista que perpassa gerações. Lançado há mais de meio século, o filme é uma tapeçaria rica em alegorias, culminando em um desfecho que permanece aberto a interpretações, alimentando debates acalorados.
A trilha sonora de "2001" é uma obra de arte à parte, elevando a experiência cinematográfica a um nível transcendental. As composições de Strauss, "Assim Falava Zaratustra" e a valsa "Danúbio Azul", harmonizam-se com as imagens, criando uma atmosfera ora épica, ora introspectiva. A maestria de Kubrick se divide em quatro atos distintos: "O Alvorecer do Homem", "TMA-1", "Missão Júpiter" e "Júpiter e Além do Infinito".
"O Alvorecer do Homem": A Centelha da Evolução.
Com uma fotografia que deslumbra, a primeira parte nos transporta para o alvorecer da humanidade. Um hominídeo, em sua luta pela sobrevivência, depara-se com uma carcaça de ossos. Em um momento de epifania, titubeia, mas agarra o mais robusto dos ossos, erguendo-o como uma ferramenta.
É o primeiro lampejo da tecnologia, a inteligência que se acende. A fome da tribo é saciada, as antas abatidas com o novo instrumento. Mas a inovação se revela ambígua quando a tribo rival invade o território. O osso, antes ferramenta de caça, torna-se arma de guerra, símbolo de dominação.
A tribo vitoriosa, agora armada, prenuncia o futuro da humanidade, um futuro construído sobre a violência. A transição de cena que se segue é de beleza ímpar na história do cinema: o osso, arremessado ao ar, transforma-se em um satélite militar em órbita da Terra. Seremos definidos pela nossa capacidade de impingir dor e destruição?
"TMA-1" e "Missão Júpiter": A Odisseia Espacial.
A segunda parte nos apresenta o monólito TMA-1, um artefato enigmático que emite um sinal para Júpiter. A missão espacial se inicia, a nave Discovery e sua tripulação rumo ao desconhecido. A chamada de vídeo, gravação de voz, automatização de funções operacionais, tudo está ali, em uma película que foi lançada no verão de 1968. A bordo temos também, (vejam só!) a inteligência artificial HAL 9000, um personagem complexo que personifica a ambiguidade da tecnologia.
A relação entre HAL 9000 e os astronautas é carregada de tensão. A máquina, com sua lógica fria e implacável, torna-se uma ameaça. A missão se transforma em uma luta pela sobrevivência, um embate entre o homem e a máquina. Muito contemporâneo quando analisamos as influências e a realidade do que as IAs são hoje em 2025 e se tornarão nos próximos anos.
"Júpiter e Além do Infinito": A Viagem Psicodélica
A última parte nos leva a uma viagem lisérgica através do Stargate, um portal interdimensional que transporta o astronauta Bowman para além da realidade conhecida. As imagens oníricas e abstratas desafiam a interpretação, conduzindo o espectador a um estado de contemplação psicodélica.
Bowman encontra-se em um quarto branco, um ambiente que Kubrick descreveu como um "zoológico para humanos".
Ali, ele passa por diversas transformações, fases de sua vida que tem muito do que outro grande diretor, Christopher Nolan, tentou fazer muitos anos depois em paralela referência no seu “Interestelar”, de 2014. A transformação, o renascimento sobrepujando sua forma de um adulto “humano”, aliás o que é ser humano ou robô? Em diversos momentos sentimos mais empatia com HAL 9000 do que com a tripulação de astronautas secos como gravetos.
A cena derradeira do famigerado “Starchild”, um feto cósmico que observa a Terra, significaria essa transformação? Renascimento? Transcendência? Evolução? Kubrick, em uma rara entrevista, ofereceu uma pista: "Quando eles terminam com ele, assim como acontece em muitos mitos de todas as culturas do mundo, ele é transformado em um tipo de super-humano e enviado de volta para a Terra".
"2001: Uma Odisseia no Espaço" é um filme que exige ser apreciado sem pressa, deveras um convite para a contemplação. A direção de Kubrick, com sua obsessão por simetria e centralização, transporta o espectador para um universo único. É um filme atemporal, que nos convida a questionar nossa existência e nosso papel no cosmos.
Filme: 2001: Uma Odisseia no Espaço
Ano: 1968
Diretor: Stanley Kubrick
Onde Assistir? Max & Prime Video
Nota IMDb: 8.3/10
Nota Chamons: 10/10