A comunidade congolesa no Brasil, movimentos imigrantes e movimentos negros de São Paulo realizarão ato simultâneo ao do Rio de Janeiro, no próximo dia 5 de fevereiro, sábado, em protesto contra o assassinato do jovem Moise Mugenyi Kabagambe, no último dia 24 de janeiro. Em São Paulo, o ato será no Masp, às 10h, e no Rio, em frente ao quiosque Tropicália, altura do Posto 8, na Barra da Tijuca, onde o jovem trabalhava como ajudante de cozinha. Moise foi assassinado pelo patrão e outros quatro cúmplices a pauladas por cobrar salário atrasado.

A prefeitura do Rio de Janeiro já expediu a ordem de suspensão do alvará e do licenciamento do quiosque, até que sejam apuradas as responsabilidades sobre a morte do jovem. Câmeras de vídeo instaladas no próprio quiosque registraram o assassinato. Três dos cinco envolvidos já estão presos.

Um retrato cruel da realidade em que vive o trabalhador no Brasil. De um lado, confrontado pelo próprio presidente da República, que impõe a escolha entre ter “direitos” ou “empregos” e, de outro, vítima do racismo estrutural da sociedade e da xenofobia (aversão a tudo o que é estrangeiro), muitas vezes estimulada pelo próprio presidente e seus seguidores. Grande parte da sociedade brasileira assusta por sua forma de agir e pensar. Despreza e humilha o negro, justamente o negro que foi escravizado, e exalta, por outro lado, valores elitistas e brancos. Nada mais perturbador do que ouvir da mãe do jovem Moise, Ivana Lay,  o desabafo: "Uma pessoa de outro país que veio para cá para ser acolhido e vocês matam ele porque pediu o salário?” Moise nasceu em 1997 e veio para o Brasil em 2011, aos 14 anos, junto com a família fugindo da fome e da guerra. Ironia! Em quê transformou-se a sociedade brasileira?

O assassinato de Moise não pode ficar impune. O trabalhador deve cobrar, sim, seus direitos – e o salário é um direito fundamental – assim como emprego digno, educação, saúde, transporte, habitação, infraestrutura, democracia.

A comunidade congolesa no Brasil não vai se calar. Brasileiros que se prezam também não devem se calar. O racismo endêmico e estrutural no Brasil historicamente, sempre foi encobertado, aviltantemente, na sociedade. No entanto, o negacionismo, o ódio de classe e social e a falta de empatia proporcionados pelo advento do bolsonarismo escancararam essa situação.

A Embaixada da República Democrática do Congo, em Brasília, DF, emitiu nessa segunda-feira, 31, nota denunciando outros quatro casos de assassinatos de congoleses no Brasil, ainda sem solução, e informou que pretende encerrar as atividades mineradoras de brasileiros no Congo como represália.

Como de costume, nenhuma declaração do governo Bolsonaro sobre o caso. Silêncio revelador.