Se vivêssemos em tempos normais a resposta para a pergunta que é titulo desta matéria seria simples: devemos tomar qualquer vacina que tenha a sua segurança atestada pela Anvisa – nosso órgão regulador. Mas não vivemos em tempos normais e as regras da obviedade não regem mais as decisões do nosso Governo.

Inicialmente, o Governo e seus aliados apostaram no descrédito da Coronavac – vacina produzida por uma empresa chinesa em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao Governo de São Paulo, cujo governador, João Doria, se coloca como adversário político de Jair Bolsonaro. Este, por sua vez, apostou na vacina da AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, nome pelo qual acabou ficando popularmente conhecido.

Não foi a disputa entre as vacinas que colocou em risco a imunização no Brasil,  e sim o aparente fracasso da vacina de Oxford e o sucesso da Coronavac. Enquanto o Instituto Butantan recebe cada vez mais vacinas e insumos para produção em massa aqui no Brasil, o Governo Federal ficou com um problema nas mãos, porque a vacina em que tinham apostado encontrou imprevistos – para dizer o mínimo. Um erro de dosagem comprometeu drasticamente o resultado dos testes da fase três na Inglaterra e parte da pesquisa teve que ser abandonada, fazendo com que os dados finais apresentassem 70% eficiência enquanto suas concorrentes trabalham na casa dos 90%.

Perdendo a “guerra” das vacinas, o Governo Bolsonaro além de tentar desacreditar a Coronavac, passou a dar sinais de que não trabalharia pela aprovação desta vacina junto a Anvisa, que hoje é dirigida por indicações políticas em detrimento dos quadros técnicos do órgão: um exemplo claro disso foi o Ministro da Saúde dizer que o Estado de São Paulo não conseguiria iniciar a vacinação em 25 de janeiro como anunciado porque a Anvisa precisaria de mais tempo para autorizar a Coronavac. Ele alegava ser necessário no mínimo 30 dias de prazo, o que é considerado excessivo devido à urgência da situação. A Inglaterra levou oito dias para analisar e autorizar a vacina da Pfizer.

Devido a forte pressão de vários setores da sociedade e com o Governador do Maranhão, Flavio Dino, entrando no Supremo Tribunal Federal  para que a legislação feita para aquisição de insumos médicos de modo emergencial mesmo sem autorização da Anvisa também seja válida para a compra de vacinas pelos Estados, o Governo Federal passou a abaixar o tom quanto a críticas e possíveis postergações direcionadas a vacina produzida junto com o Instituto Butantan. Hoje, o Ministério da Saúde já trabalha com o fato de que vai precisar da Coronavac para a imunização em massa da população e já tem planos de compra dessa vacina junto ao Governo de São Paulo.

Diante desse cenário, em que percebemos o Governo quase que como um todo tendo que reconhecer a necessidade da Coronavac, sobra a visão desconexa da realidade do próprio Presidente Bolsonaro, que depois de ter apostado alto em remédios que não funcionam, decidiu declarar guerra a qualquer vacina, destilando críticas infundadas até para a vacina da Pfizer – que goza de amplo reconhecimento internacional e que só não será usada amplamente no Brasil devido à logística de resfriamento a - 70C° que essa vacina exige no transporte e armazenamento.

O adiamento da divulgação dos dados da Coronavac em 15 dias, feito pelo Governo de São Paulo, alegando uma cláusula contratual para que os resultados possam ser apresentados de forma unificada pela Empresa responsável pela vacina, podem sim ser um sinal de que a pesquisa não apresentou conclusões tão promissoras quanto a pesquisa na Turquia, que confirmou 91,25% de eficácia. De toda forma, essa ainda é a vacina mais adiantada no Brasil com plenas condições de garantir sua aplicação em massa.

Apesar do pensamento terraplanista do Presidente diante da futura vacina, temos que responder a pergunta que originou esta matéria: “qual vacina devemos tomar?” A resposta não foge à obviedade: temos que tomar uma vacina segura o mais rápido possível e devido à incompetência do Governo Federal diante da preparação do Instituído Butantan, já é possível afirmar que se você mora no Estado de São Paulo é quase certo que a Coronavac vai estar disponível para você meses antes de outras vacinas, talvez anos. Se você for de outros Estados do Brasil, também pode ter a certeza de que a Coronavac caminha a passos largos para ser a sua primeira e talvez única opção.