Diante da humilhação que sofreu do seu pupilo, o governador de São Paulo, João Doria Jr., que saiu na frente e iniciou a vacinação contra a Covid-19 no Brasil, no último domingo, dia 17, membros do alto escalão do governo de Jair Bolsonaro admitiram, nesta terça-feira, 19, que as agressões unilaterais do presidente Bolsonaro contra o governo chinês têm impedido a importação de insumos para a produção das vacinas contra o coronavírus. A ordem (não se sabe de quem), agora, é tentar uma reaproximação com a China.

Para tanto, o governo federal destacou Ernesto Araújo, o destruidor da Amazônia, a travar contatos diários com seu correspondente chinês.

Até o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), decidiu amenizar a situação. Maia marcou uma audiência de urgência com o embaixador da China, Yang Wanming, para falar sobre o atraso no envio de insumos, sem o que, não será possível fabricar as vacinas, tanto a Coronavac, pelo Instituto Butantan, quanto a de Oxford/Astrazenca, que será produzido pela Fiiocruz. Bolsonaro havia proibido seus ministros de falarem com o embaixador chinês sobre qualquer assunto.

Os insumos já estão prontinhos e embalados para serem despachados para o Brasil, mas a exportação depende de aprovação do governo chinês. Para bom entendedor, ponto e letra. O governo chinês quer um pedido público de desculpas de Jair Bolsonaro.

A Índia também não incluiu o Brasil de Bolsonaro na lista de países que irão receber vacinas.  O governo federal encomendou 2 milhões de doses do imunizante da Astrazeneca, mas a Índia não colocou o Brasil na lista.

A Índia, um dos maiores produtores de insumos médicos do mundo, deverá priorizar a vacinação de seu povo (mais de 1 bilhão de pessoas) e terá como alvo de suas exportações, num primeiro momento, o Butão e Bangladesh. O incidente diplomático com o governo Bolsonaro se deu, quando o presidente anunciou que estaria enviando um avião rumo à Índia para trazer as duas milhões de doses do imunizante da Astrazenca. Só que Bolsonaro não avisou o governo indiano e teve que cancelar o voo.

Bolsonaro insiste no erro

Enquanto isso, o governo Bolsonaro e seus seguidores continuam dispostos a negar as evidências e a ciência. Para tanto, até ameaças de morte estão fazendo.

O coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia e médico do Instituto de Infectologia do Emílio Ribas, Dr. Sérgio Cimerman, denunciou que médicos infectologistas estão sofrendo ameaças de morte por negacionistas bolsonaristas por não receitarem tratamento com medicamentos contra a Covid-19, que não tem comprovação científica, como a cloroquina e a ivermectina. A denúncia foi feita durante o evento de vacinação iniciado no último domingo (17).

"Na luta da nossa especialidade, agora eu vou abrir aos jornalistas, estamos sofrendo ameaças de morte constantes por parte de negacionistas (...) não só eu como todos os diretores da sociedade brasileira de infectologia, que não apoiamos a cloroquina, ivermectina e o tratamento precoce”, disse Cimerman.

O tal “tratamento precoce” com medicamentos inadequados é defendido por Jair Bolsonaro e seus apoiadores, incluindo o próprio Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Médicos da Força Aérea Brasileira (FAB) também denunciaram ao site “Metrópoles”, que estão sofrendo ameaças caso não ministrem o “kit cloroquina” aos infectados. As FFAA negam as punições.

Pazuello é desmentido

Ao mesmo tempo, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, é pego na mentira pelo Jornal Nacional. Na reportagem, o ministro Pazuello diz, em entrevista coletiva, que jamais defendeu o chamado tratamento precoce contra o coronavírus, e que nunca autorizou a fazer protocolos indicando medicamentos como o uso da cloroquina e da hidroxocloroquina. No entanto, em seguida, o JN exibe uma “live”, realizada no dia 7 de janeiro, em que o ministro, ao lado de Jair Bolsonaro, defende o tratamento precoce do coronavírus. É possível ver no vídeo exibido o seguinte diálogo: "Pazuello, o tratamento precoce... o que você acha?", perguntou Bolsonaro. "É fundamental. Não existe outra saída senão diagnosticarmos (a doença) o mais rápido possível e iniciar o tratamento precoce o mais rápido possível", respondeu o titular da Saúde.

Em seguida, o ministro mudou de estratégia e passou a falar em "atendimento precoce", após os diretores colegiados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmarem que não existe tratamento precoce e nem medicamento contra a doença do coronavírus.

Na reportagem, o jornalista Marcos Losekann destacou que, "apesar das declarações de Pazuello de hoje, o Ministério da Saúde recomenda efetivamente o uso de medicamentos sem comprovação para o tratamento precoce da Covid". O ministério da Saúde enviou, por exemplo, documentos oficiais do governo, indicando o uso desses medicamentos. Isso tudo, em meio ao caos da falta de oxigênio aos doentes pela Covid-19.

Panela de pressão

Toda essa efervescência está levando os brasileiros a aumentarem sua indignação contra o governo Bolsonaro. O termo #queremosimpeachment se tornou o assunto mais comentado no Twitter no Brasil.

Não é pra menos. Perguntado sobre a aprovação das vacinas pela Anvisa, Bolsonaro disse; “Apesar da vacina, quer dizer, apensar não...a Anvisa aprovou, não tem o que fazer mais”, disse ele. Essa frase mostra o quanto Bolsonaro e os bolsonaristas desprezam a vida e não estão nem um pouco preocupados com os acontecimentos.

A opinião sobre a postura do governo federal também encontra divisões na próprio Exército. O general e ex-ministro da Secretaria de Governo Carlos Alberto dos Santos Cruz criticou duramente a forma como Jair Bolsonaro vem enfrentando a pandemia. Para Santos Cruz, Bolsonaro dá razões para que se duvide de sua sanidade mental.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que há meses segura dezenas de ações de impeachment contra Bolsonaro, finalmente admitiu que será inevitável discutir a pauta no futuro. Essa hipótese é esperada com ansiedade pelo povo brasileiro e, por isso, urge a convocação imediata do Congresso para que se discuta a saída de Jair Bolsonaro da presidência. No entanto, e preciso que toda a sociedade se mobilize numa grande ação popular pelo “impeachment” de Bolsonaro.