Quando tomamos alguma decisão importante em nossas vidas, precisamos sempre estar atentos aos prós e contras que envolvem as consequências da decisão tomada. Na política isso não é diferente, mas nem sempre é fácil prever todos os desdobramentos. Normalmente, existe uma incerteza muito grande, mas as decisões precisam ser tomadas.

Ao abordarmos o comportamento das esquerdas na eleição para presidência do Congresso, podemos entender o peso das decisões na política e todas as variáveis que elas envolvem. No caso, algumas opções foram apresentadas: inicialmente, lançar uma candidatura própria de esquerda; apoiar o candidato do bloco de Rodrigo Maia (DEM) - que veio a ser Baleia Rossi (MDB-SP) - foto da capa; ou apoiar Arthur Lira (PP-AL), líder do centrão e candidato apoiado pelo governo Bolsonaro.

Podemos, de imediato, descartar a terceira opção. Apoiar um candidato nitidamente aliado ao Governo seria impensável. Logo, duas opções sobram: um candidato próprio ou apoiar Baleia Rossi. O caminho do meio seria dar esse apoio, somente no segundo turno, o que também é uma possiblidade.

A única vantagem de se lançar um candidato de esquerda seria para fazer discurso de palanque para as bases. Do ponto de vista prático, não existe a possibilidade, na atual conjuntura, de se eleger um presidente de esquerda, mas existem riscos em se adotar esse caminho. O primeiro, é manter a esquerda rachada, pois PDT, PSB e PCdoB escolheram prontamente ingressar no bloco de Maia, apoiando seu candidato. Uma candidatura de esquerda acabaria tendo apoio apenas do PT e do PSOL, o que não chegaria a 70 deputados. Se pensarmos que unir as esquerdas é fundamental para 2022, ingressar no bloco de Maia de forma unificada fortalece as relações desses partidos para 2022.

Outro risco é que, sem o apoio dos partidos de esquerda a Baleia Rossi, a vitória de Lira ocorreria sem grandes dificuldades e o governo Bolsonaro teria um presidente do Congresso de sua escolha sem nem ter que oferecer muitos cargos para que isso - podendo preservar seu poder de barganha para votações futuras.

Se permitir a vitória de Lira é insanidade, lançar uma candidatura de esquerda para perder (e inevitavelmente apoiar Baleia Rossi no segundo turno) também só teria como vantagem o fato de poder fazer discurso para as bases e traria mais algumas desvantagens: primeiro, teríamos o risco de que, vendo a fragilidade do candidato de Maia de se fortalecer, ainda no primeiro turno, muitos deputados poderiam acabar escolhendo Lira por ver nele maior chance de vitória. É bom lembrar que a maioria dos deputados vota por interesses e não por ideologia. Então, quem tem maiores chances de ganhar, acaba atraindo esses votos oportunistas que, no final, são os que decidem as votações. Outro problema que o apoio do segundo turno traria é a diminuição do poder de influência da esquerda na próxima presidência, já que, caso o PT não tivesse escolhido corretamente dar seu apoio no primeiro turno, não teria a chance de disputar a primeira Vice-Presidência - cargo que pode ser fundamental para organizar a oposição contra propostas de cunho liberal e autoritárias vindas do Governo.

Deste modo, podemos perceber que lançar uma candidatura própria seria como se fizéssemos um discurso desconectado da realidade com o único objetivo de agradar a nós mesmos, mas sem termos as condições de realmente disputar contra o Governo. O apoio a Baleia Rossi caminha para ser a decisão correta, como melhor forma de enfrentar o governo Bolsonaro, mesmo que saibamos que não estamos elegendo um presidente de oposição ou de esquerda. Temos que ter em mente que as investidas da direita, sejam a bolsonarista ou a de direita-liberal, representada pelo Maia no Congresso, principalmente, quando estas estiverem de comum acordo, vão continuar a representar ameaças à população brasileira (com seus ataques aos direitos dos trabalhadores), mas é nosso dever explorar as disputas destes grupos para estarmos melhores articulados e posicionados na hora do enfrentamento à direita!

O PT, por 27 a 23 na votação interna da bancada, votou pelo apoio a Baleia, por entender a oportunidade de enfraquecer Bolsonaro com a derrota de seu candidato.

Agora, falta apenas o PSOL escolher pelo apoio o Baleia Rossi. Na última votação de sua bancada, houve um empate de 5 a 5. O PSOL precisa tomar sua decisão em cima do dilema que o PT também teve que passar: lançar candidatura própria para ter um palanque e fazer discurso tendo como único resultado uma tentativa de se fortalecer com sua própria base ou escolher fazer uma política mais objetiva de enfraquecimento do governo Bolsonaro, que é o maior inimigo do Brasil no momento.