Os desdobramentos da visita do presidente Lula e ministros a Roraima há 20 dias e o decreto de estado de emergência na saúde mais a operação de combate ao garimpo ilegal estão revelando cenas desumanas contra o povo yanomami, além do tamanho da devastação da natureza.

O governo Bolsonaro incentivou os garimpos ilegais. Seus avanços na exploração de minérios na região Amazônica trouxeram rastros de destruição e de mortes.

A tragédia yanomami no estado de Roraima é mais um capítulo de um genocídio anunciado em nossa história. As vítimas fazem parte da omissão criminosa orquestrada e conduzida pelo governo Bolsonaro.

Logo após o governo Lula instaurar o controle do espaço aéreo no território yanomami centenas dos 20 mil garimpeiros ilegais começaram a deixar a região.    

Mas os sinais de devastação estão por toda parte. Imagens aéreas mostram as águas dos rios contaminadas por mercúrio, usado na extração ilegal de ouro e minérios.

Com os rios poluídos, os indígenas ficaram sem fontes de alimentos. O resultado foi desnutrição, fome e com elas as doenças e as mortes.

Ao chegar no local a força tarefa do SUS (Sistema Único de Saúde) constatou a morte de 570 crianças yanomami, quase todas por doenças evitáveis.

Mas as notícias são ainda mais estarrecedoras.

O Ministério Público Federal e o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania estão apurando denúncias de que 30 meninas yanomami foram engravidadas por garimpeiros.

E constatou-se outra arbitrariedade absurda, onde impera a lei do mais forte. Fazendeiros vizinhos da reserva yanomami cobram 200 reais de grupos de indígenas para que esses possam acessar a cidade de Alto Alegre.

Com população de 27 mil indígenas em 360 comunidades, os yanomami estavam desprotegidos e indefesos.

Uma situação que contraria frontalmente a nossa Constituição Federal de 1988.

Diante dessa tragédia humanitária, a Câmara do Deputados não pode se omitir.

Por isso, nosso mandato protocolou requerimento para criação de uma Comissão Temporária na Câmara de Deputados com a atribuição de fiscalizar e propor medidas diante dessa catástrofe social.   

Crianças e adultos em situação de elevada subnutrição, cadavéricas, numa realidade que não deveria existir num País que, ano após ano, registra recordes na sua produção agrícola e alimenta diversas nações e povos. 

Também apresentamos Projeto de Resolução para criar uma Comissão Permanente de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas. E esta acabou de ser aprovada com o desmembramento da Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e Amazônia.  

A Câmara Federal pode contribuir e muito para superarmos essa catástrofe social e proteger os povos indígenas.

Afinal, quando preservam o meio ambiente, os povos indígenas estão garantindo a nossa própria existência humana.

Autoria
Juliana Cardoso é deputada federal eleita para o mandato 2023/2026. Faz parte da Comissão de Saúde e da Comissão de Mulheres, além de suplente na Comissão dos Povos Originários e Amazônia. É colaboradora do CCN Notícias
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