O Brasil comemorou neste sábado (29), o Dia Nacional da Visibilidade de Transexuais e Travestis. Criada em 2004, a data marca a conscientização e a luta histórica de pessoas transgêneras em território brasileiro. No entanto, foi apenas em 2016 que o decreto presidencial autorizou o uso de nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de travestis e transexuais no âmbito da administração pública federal.

Mas, se a luta por direitos tem sido árdua para este segmento da população, outra luta deve se fortalecer: a sobrevivência.

Segundo informações da pesquisa Trans Murder Monitoring (TMM) – Observatório de Pessoas Trans Assassinadas (em tradução livre para o português) – atualizada anualmente pela Transgender Europe (TGEU),  organização que monitora dados e experiências de pessoas trans e gênero-diversas com violência e criminalidade desde 2009, o Brasil é um dos países que mais matam essas pessoas no mundo.

Entre 1 de outubro de 2019 a 30 de setembro de 2020, foram assassinadas 350 pessoas trans no mundo. Na primeira posição, com 152 casos reportados, aparece o Brasil. México (com 57 homicídios), em segundo; EUA (com 28); Colômbia (com 21) e Argentina (12) fecham as cinco primeiras posições.

Desde o início do levantamento de dados, o Brasil tem sido o país que mais registra homicídios. Do total de 4.042 assassinatos catalogados pela Transgender Europe (TGEU), 1.549 foram no Brasil. Ou seja, sozinho, “o país acumula 38,2% de todas as mortes de pessoas trans do mundo”, diz o relatório. Isto significa que a cada 10 mortes de trans ao redor no mundo, quatro ocorreram no Brasil.

Segundo dossiê “Assassinatos e Violência contra Travestis e Transexuais Brasileiras”, elaborado pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) e o Instituto Brasileiro Trans de Educação (IBTE), em 2021, pelo menos, 140 pessoas trans foram assassinadas em território nacional. No ano de 2020, atingiu a segunda pior marca; 175 pessoas trans foram assassinadas, só ficando abaixo do próprio Brasil que, em 2017, registrou 179 casos.

Artistas Trans para conhecer e acompanhar

Mesmo com esse triste quadro, artistas travestis e transexuais brasileiras estão conseguindo romper o preconceito com muita luta e se consolidam, a cada dia, ainda mais na mídia nacional. Têm presença marcante na música, em filmes, novelas e séries.

O CCN Notícias listou alguns artistas trans que se destacam atualmente no cenário das artes para seguirmos e acompanhar. Confira.

Assucena e Raquel

“As Baías”, foi um trio formado em 2011 pelas cantoras baianas Assucena Assucena e Raquel Virgínia, e o músico mineiro Rafael Arcebi. Todos estudantes de História na Universidade de São Paulo (USP). Em 2017, o trio ganhou dois prêmios no 29º Prêmio da Música Brasileira e, por anos consecutivos, a banda foi indicada ao Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Pop Contemporâneo”, em língua portuguesa. No final de 2021, anunciaram o fim da banda para seguirem carreiras solos.

Liniker

Nascida em Araraquara, Interior de São Paulo, a cantora e atriz de 26 anos, Liniker, começou a carreira em 2015 na banda Liniker e os Caramelows”, com quem lançou o EP “Cru”, em 15 de outubro daquele ano, por meio do primeiro single, "Zero". Seu álbum de estreia “Remonta” repercutiu internacionalmente e ganhou atenção da imprensa estrangeira. Em Setembro de 2021, Liniker lançou seu primeiro álbum solo, Indigo Borboleta Anil”, que conta com as colaborações de Milton Nascimento e Tassia Reis.

Urias

Nascida e criada em Uberlândia, MG, Urias começou a cantar aos 26 anos de idade em situações informais e nas reuniões entre amigos. Numa dessas ocasiões, o preparador vocal Diego Timbó ficou impressionado com suas potencialidade vocal, afinação e clareza sonora e sentenciou: “menina, você precisa gravar”. E assim, sua carreira deslanchou. Urias possui hoje 364 mil ouvintes mensais nas plataformas digitais e 27 milhões de visualizações em seu canal oficial do YouTube. Nas redes sociais, são mais de 600 mil seguidores.

Rosa Luz

Rosa Luz é criadora de vídeo independente na internet. Seu canal no Youtube “Ros4” tem mais de 40 mil inscritos. É cantora de rap e artista visual. Atualmente é um nome central para a visibilidade LGBTQIA+. Atualmente mora na cidade de Carapicuíba em São Paulo.

Majur

Majur, de 26 anos, nasceu no bairro Uruguai, em Salvador, BA. Começou a cantar aos 5 anos no “Coral da Orquestra Sinfônica da Juventude de Salvador” e, em 2008, chegou à final do Festival Anual de Canção Estudantil, promovido pelo Ministério da Educação. A cantora, que se identifica como uma pessoa trans não-binária, lançou seu primeiro trabalho solo em 2018, intitulado “Colorir”, um EP com 3 faixas e seu primeiro single “20ver”. Participou, em 2019, do projeto “AmarElo” junto com Emicida e Pabllo Vittar.

Nick Cruz

Nascido e criado na cidade de Serra, ES, Nick Cruz, de 23 anos, é uma das principais novidades no pop brasileiro. Sabia que queria trabalhar com música ainda criança quando cantava nos karaokês com a família. Em 2019, assinou com a gravadora Warner Music Brasil. Recentemente, lançou um single “Cato Cato” junto com a cantora Urias.

Jup do Bairro

Jup do Bairro é uma cantoracompositoraapresentadora brasileira e foi companheira musical de Linn da Quebrada. Jup é nascida e criada no bairro/distrito do Capão Redondo, na zona Sul de São Paulo, Valo Velho. Iniciou sua carreira em 2007.  Na música, Jup do Bairro integrou por cerca de três anos a banda da também multiartista Linn da Quebrada, como sua backing vocal, performou e colaborou na criação de “Pajubá”, em 2017. Em 2019, estreou o Canal Brasil, junto com Linn da Quebrada, o “TransMissão”, o primeiro talk show comando por pessoas trans no Brasil.

Sam Porto

Nascido em Brasília, o modelo de 26 anos, Sam Porto, foi o primeiro homem trans a desfiliar no “São Paulo Fashion Week”, em 2019. Naquela edição, a imagem de Sam na passarela logo se tornou emblemática em um momento em que a falta de representatividade de pessoas transgêneras na indústria da moda não era sentida como um problema. Recentemente, é estrela da campanha de cuecas para grife Calvin Klein.

Autoria
Thais Linhares é mestra em Ciências Sociais pela UNESP, professora da rede estadual de ensino e colaboradora do CCN Notícias
Artigos publicados