O presidente Jair Bolsonaro, em seu discurso de abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU (Organizações das Nações Unidas), no dia 21 de setembro de 2021, afirmou que o Brasil concederia “visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e juízes afegãos”.
Na ocasião, os afegãos buscavam asilo pelo mundo fugindo do governo Talibã (um grupo de fanáticos religiosos muçulmanos que misturam religião com política), que havia tomado o poder, em 15 de agosto. Bolsonaro disse na ONU, portanto, que o Brasil estaria de portas abertas aos cidadãos do Afeganistão que quisessem deixar o país. Disse o presidente: “O futuro do Afeganistão também nos causa profunda apreensão. Concederemos visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e juízes afegãos”, O presidente afirmou ainda que o Brasil “sempre acolheu refugiados”.
Notem que no discurso, Bolsonaro refere-se aos “cristãos” afegãos. Mas, Portaria do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Justiça e Segurança Pública ao regulamentar a concessão do visto e a acolhida humanitária, como disse Bolsonaro, não menciona qualquer critério relacionado a “cristãos” afegãos, mas a “atenção a solicitações de mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiência e seus grupos familiares”. É exatamente o que compete às relações internacionais.
Mas, no discurso de Bolsonaro, o viés religioso sempre está presente e em destaque. Uma espécie de Talibã Tupiniquim.
Pois bem, o tempo passou e os afegãos que fogem da perversidade daqueles que misturam a religião com política começaram a chegar no Brasil. Desde o começo de outubro, um grande grupo de refugiados, entre eles, idosos e crianças, continua sem o devido acolhimento prometido no saguão do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Somente na última quinta-feira, 13, é que, após o Ministério Público Federal ter cobrado explicações da Casa Civil, do Ministério da Cidadania, do governo de São Paulo, prefeituras de São Paulo e de Guarulhos e da concessionária do aeroporto, é que um grupo de 54 afegãos foram levados para um abrigo, em uma cidade do interior do Estado. A maioria permanecem desassistidos oficialmente acampados no aeroporto. O Ministério das Relações Exteriores diz que, desde o início da concessão de vistos humanitários, em setembro de 21, até o início deste mês, foram autorizados 6.299 vistos a afegãos. Ou seja, o acampamento pode aumentar.
Até quando os discursos de Bolsonaro vão deixar de ser só discursos e passar à prática? Talvez, só até o final do ano.