O Brasil demorou 11 meses para chegar à marca de 200 mil vidas perdidas pela Covid-19 e menos de 50 dias para registrarmos mais de 50 mil mortes. No último dia 3, ultrapassamos os Estados Unidos e assumimos a liderança no mundo como o país que mais registra novos casos de coronavírus por dia. Estamos batendo recordes de óbitos diários e quem ainda não percebeu que vivemos o pior momento da pandemia, de franca expansão, não vive no Brasil.
Como médico, acompanho diariamente o estado de saúde de pacientes com Covid-19 e o drama de suas famílias em busca de leitos de enfermaria e UTI. O cenário é devastador. As novas variantes da Covid-19 transmitem mais rápido e acometem o público mais jovem. Não à toa, hoje todos os estados do país apresentam mais de 70% dos leitos de UTI ocupados.
O estado de São Paulo também registra essa média de ocupação dos leitos, tanto nos hospitais públicos quanto nos privados. Acredito que ninguém imaginou que um dia veríamos hospitais privados como Sírio Libanês e Albert Einstein com fila de espera para UTI, com 100% de ocupação. Ou seja, com Covid-19, a pessoa pode ter o dinheiro que tiver e mesmo assim não vai ter uma vaga disponível em leito de UTI.
Diante deste cenário, precisamos perceber a gravidade e ouvir mais a ciência, os médicos e profissionais da saúde e quem defende a vida ou tragédia humana que está em plena condução no país será maior em 2021.
Com quase 2 mil mortes diárias, ainda vemos o Presidente da República fazendo pouco caso do isolamento como medida de proteção, do uso de máscaras e do fechamento dos serviços não essenciais. Para ele, essas medidas são "mimimi" e "frescura".
Sua intransigência e irresponsabilidade na aquisição de vacinas para o povo brasileiro é denunciada diariamente. Como não ficar indignado com um país que é referência mundial de imunização ficar na lanterna na compra de vacinas?
Coube ao Congresso Nacional se unir para aliviar o sofrimento da população. Desde o início da pandemia, foram aprovadas medidas para pressionar Bolsonaro a fazer o que é de responsabilidade dele, mas que ele não faz. Tudo o que o governo precisava e precisa para abrir leitos de UTI, ampliar testes e levar vacina para a população, o Congresso assumiu a responsabilidade e não desistiu de auxiliar os estados e municípios.
No ano passado, aprovamos a Medida Provisória da Vida, que garante a vacinação imediata da população. Nela, o Ministério da Saúde é obrigado a prestar contas sobre compras e aplicação das vacinas com listas públicas, a permitir a compra de vacinas já autorizadas pela Anvisa aos estados e municípios quando o Ministério da Saúde não garantir doses, agilizar a compra de vacinas cientificamente comprovadas seguras e apresentar um Plano Nacional de Imunização coordenado pelo Ministério da Saúde em conjunto com estados e municípios para que as diretrizes deste plano atendam as pessoas mais vulneráveis e os trabalhadores da educação. Todas essas ações foram vetadas por Bolsonaro esta semana. Entramos com um pedido ao Supremo Tribunal Federal para que os vetos sejam derrubados.
Bolsonaro, todos os dias, aniquila a possibilidade do Brasil de vencer a pandemia com seu discurso mentiroso e genocida, banalizando o recorde diário de mortes pela doença e fazendo o país ser reconhecido mundialmente como fracasso no combate à Covid-19. Não faltam crimes de responsabilidade e é preciso que todos estejamos unidos para fazer o que o maior representante do país não faz: salvar vidas.
*Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi Ministro da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma e Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de SP.