O Deputado Federal Alexandre Padilha (PT-SP) divulgou um vídeo em suas redes sociais em que explica o porquê a bancada do Partido dos Trabalhadores decidiu apoiar a candidatura do Deputado Baleia Rossi (MDB-SP) à presidência da Câmara Federal.
O assunto gerou controvérsias entre os militantes do PT, tanto que a votação na bancada que decidiu a questão foi apertadíssima: 27 votos a favor do apoio, contra 23. A decisão ganhou as páginas dos grandes jornais do país, embora nenhum deles tenha dado destaque às lideranças petistas para explicarem o porquê da decisão. A Folha deu certo espaço. O Estadão ignorou. O Globo falou sobre a decisão, mas não entrevistou ninguém do PT.
O CCN Notícias foi atrás e reproduz o que o Deputado Alexandre Padilha disse a respeito.
A eleição que definirá a presidência da Câmara dos Deputados se realizará no próximo dia 1 de fevereiro em dois turnos. Se no primeiro, um dos candidatos obtiver a maioria absoluta (257 votos, dos 513) estará eleito. Se não conseguir, horas depois, haverá o segundo turno, entre os dois mais votados.
Por enquanto há apenas duas candidaturas certas: a de Arthur Lira (PP-AL), candidato de Jair Bolsonaro, e Baleia Rossi (MDB-SP), até agora, candidato único da oposição.
O deputado e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirma em seu vídeo que já na reunião do seu Conselho Político, realizado em dezembro, apoiava a construção de uma candidatura que derrotasse a de Jair Bolsonaro. “Ele já fez declarações públicas reafirmando e operando a máquina do governo federal para conquistar votos a essa candidatura”, diz Padilha, referindo-se a Arthur Lira.
Padilha defendeu na reunião da bancada do PT, realizada nesta segunda-feira, 4 de janeiro, que o partido não podia permitir que Bolsonaro tivesse alguém na presidência da Câmara atrelado a ele. Lembrou que “com todas as dificuldades, a Câmara foi muito importante esse ano pra barrar projetos autoritários do Bolsonaro. Não podemos esquecer que Bolsonaro enviou uma Medida Provisória para que ele e o MEC indicassem os reitores das universidades. Esse MP foi barrada, não só pela esquerda, mas também por um conjunto de partidos que falaram ‘não’ a essa MP”, lembrou Padilha.
O PT é a maior bancada individual entre os partidos que compõem o Congresso, com 52 deputados. “Mas, isso significa somente 10% da Câmara”, disse o deputado. “Sozinhos, nós não somos nada. Não temos poder nenhum de influência, tanto na pauta, quanto na eleição da presidência da Câmara”.
No entanto, Padilha acrescenta que quando o PT juntou-se aos demais partidos de esquerda, além dos partidos de direita, com os quais tem divergências, foi possível “derrubarmos os arroubos autoritários de Bolsonaro”. “Nós derrubamos vetos que ele fez, por exemplo, aos projetos de proteção aos povos indígenas, conseguimos aprovar agora o Fundeb na reta final do ano, preservando os recursos à Educação pública ou para aprovar uma emenda de minha autoria que obrigava a destinação de recursos federais à vacinação para todos. Foi essa união entre todos esses partidos que permitiu barrar os projetos de Bolsonaro, tornar a Câmara mais independente e resistir ao que é o governo nesse momento”, contou.
Padilha diz no vídeo que, em um primeiro momento, o PT foi buscar o diálogo com os demais partidos de esquerda para saber sobre a necessidade ou não de se construir uma candidatura “do nosso campo”. Desde o início das discussões, os partidos de esquerda queriam uma única candidatura para o bloco. “Eu fui favorável na reunião da bancada que nós anunciássemos que o PT também apoiaria uma candidatura única para o bloco”. Dessa forma, “mostraríamos força e unidade”.
No entanto, Padilha explicou que a construção do apoio do PT e dos partidos de esquerda a uma única candidatura fosse embasada em compromissos. “A discussão avançou e, por isso, tomamos a decisão”, disse. Segundo o deputado do PT, algum desses compromissos assumidos pela candidatura de Baleia Rossi são: a defesa do SUS; defesa do acesso universal à vacina; a defesa de não permitir que qualquer projeto que ataque os direitos humanos e que retroceda em relação às conquistas democráticas possam ser aprovados na Câmara; não permitir que qualquer projeto que ataque a soberania nacional e o nosso patrimônio público avance na Câmara; a defesa da chamada ‘pauta dos costumes’ não avance.
Padilha contou que alguns “companheiros” do PT defendiam outra candidatura. “Eu não fui favorável a essa posição, primeiro, porque isso seria uma demonstração da nossa fraqueza e de um fortalecimento da candidatura do Bolsonaro. Segundo, que entre a primeira e a segunda votação, uma questão de horas, o que PT poderia negociar isoladamente? Que se o Baleia não apoiasse determinadas questões, nós iríamos votar no Lira, no candidato do Bolsonaro? Que negociação iríamos ter? Ou a gente iria se abster no segundo turno e entregar para a candidatura do Bolsonaro?”, questionou.
Segundo o deputado, ao decidir já, permitiu a antecipação das discussões de pontos de um programa com reais condições de negociação.”Se fosse no primeiro ou no segundo turno, talvez não tivéssemos essa condições. Como negociamos antecipadamente, isso firmou compromissos e nos dá forças para derrotarmos a candidatura apoiada por Bolsonaro”, avalia.
A candidatura de Arthur Lira (PP-AL) tem o apoio do Palácio do Planalto e reúne parlamentares do PL, PP, PSD, Republicanos, Solidariedade, PROS, Patriota, PSC e Avante. Poderá contar com o apoio do PTB que ainda não se definiu.
Já a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) conta com o apoio de 11 legendas: PSL, MDB, PSDB, DEM, Cidadania, PV, PSB, PDT, Rede, PCdoB e PT.
Como a votação será secreta e os candidatos já estão em campanha, é necessário observar a possibilidade de “mudanças de opinião” no meio do caminho, até às eleições, quando o presidente, o 1º e o 2º vices, 4 secretários e 4 suplentes serão eleitos.