A atual política econômica, somada à total incompetência do governo federal em controlar a pandemia, está levando o Brasil a um colapso de proporções assustadoras. Podemos estar prestes a enfrentar o que muitos economistas chamariam de “tempestade perfeita”: perda do controle da inflação, depressão econômica e forte desemprego. Até a nossa capacidade de rolagem da dívida pode ser comprometida.
Mesmo que o Congresso aprove mais quatro meses de auxílio emergencial, com o descontrole da pandemia devido à insistência do governo federal em boicotar medidas sanitárias e com o atraso no Programa Nacional de Vacinação, os problemas econômicos só serão empurrados para o segundo semestre. Ou seja, não há nada que o governo esteja fazendo para evitar o colapso que virá.
Mesmo o auxílio sendo fundamental para as famílias de baixa renda enfrentarem a crise sanitária, ele não se configura como uma medida que resolva os problemas.
Um dos problemas mais evidentes que enfrentaremos é a depressão econômica de 2020. Nosso PIB despencou 4,1% e só não foi pior, devido ao crescimento das exportações para a China – o que salvou nossa balança comercial e também por causa do auxílio emergencial – o único fator que manteve a economia interna de pé. Só que o ano de 2021 corre o risco de se tornar relativamente pior. É muito provável que tenhamos algum crescimento esse ano, mas esse crescimento está sendo colocado em risco, já que muitos países estão caminhando em direção à superação da pandemia, enquanto o Brasil se prepara para entrar em mais um processo de enrijecimento do isolamento social por estar atrasado na compra de vacinas e não ter conseguido manter medidas sanitárias adequadas por parte da população, como o uso de máscaras e o respeito ao distanciamento social.
Deste modo, mesmo com o novo auxílio emergencial que vai dar algum fôlego econômico aos brasileiros, é muito provável que o PIB não chegue perto de recuperar o prejuízo de 2020. Em países que caminham para vencer a Covid-19 com a vacinação e medidas de isolamento social, por outro lado, 2021 pode se mostrar, não só como um ano em que os prejuízos de 2020 serão compensados, mas também no qual existe uma possibilidade de saldo positivo.
Porém, mesmo com a depressão, o problema mais grave para os brasileiros é a inflação. Qualquer cidadão percebe, ao pagar aluguel, o combustível ou ao fazer compras no mercado, que estamos perdendo o controle dos preços. Mesmo que a inflação tenha ficado em 4,52% em 2020, com relação aos alugues o aumento foi de 23,31% e, nos últimos doze meses, já está em 28%. Com relação aos alimentos, o valor subiu 14% no ano passado. Ou seja, para os mais pobres, a inflação é muito maior do que a oficial e isso tende a se agravar, considerando que o governo não tome nenhuma medida para corrigir a escalada dos preços.
E o custo, em curto prazo, de se conter a inflação subindo a Taxa Selic, acarretaria um agravamento da depressão econômica e até uma impossibilidade de rolagem da dívida, levando em consideração o espaço estreito do Orçamento Federal entre os juros da dívida e as despesas obrigatórias. Caso os juros da dívida subam, o governo terá três opções – todas negativas para o país: diminuir os gastos com saúde e educação para diminuir os gastos obrigatórios, não cumprir o teto de gastos ou dar calote na divida. O governo sinaliza não querer cumprir os gastos mínimos com saúde e educação.
Infelizmente, não existem boas perspectivas para o Brasil, enquanto não tivermos uma estratégia para enfrentar os problemas para além de botar a culpa em governos anteriores ou culpar governadores e prefeitos.