Há quase três meses, os espaços culturais foram fechados devido à pandemia da Covid-19. Nas redes sociais, as lives de artistas consagrados e independentes, só aumentam. Desde o começo dessa semana, no entanto, o clima nas redes está tenso por causa de uma grande mobilização nacional e mundial. A onda de protestos e manifestações nas ruas e nas redes sociais, após a morte de George Floyd por um policial de Mineápolis, nos Estados Unidos, fez a hashtag #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam, em tradução livre) ganhou força. Artistas do Brasil e do mundo têm usado o alcance que possuem para tratar de questões referentes ao povo negro. A cantora Teresa Cristina, por exemplo, fez uma live em seu instagram sobre cantos da Umbanda, o ator Lazaro Ramos compartilhou pela mesma rede suas primeiras experiências na profissão, por meio do bando de Teatro Olodum, na Bahia. Ele finalizou o texto dizendo:
“Sim, a justiça é possível.
Sim, valorizar a vida é necessário.
Sim, é preciso se indignar.
E sim, somos cidadãos desse país e assim temos que ser tratados. Através de um projeto que lute por uma comunidade mais justa para todos. Essa é a meta. Olhar pra todos.
Me recuso a acreditar que o que nos sobrou foi a barbárie.
E acabo este textão com arte.
Passei a semana escutando Refavela, Realce e Refazenda.
Três álbuns de Gil onde ele fala de revisões e reconstruções.
Nos meus delírios sensoriais comecei a compor uma nova nação. O sonho me falava sobre Reconstrução, sobre um ReBrasil.
[...]
#vidasnegrasimportam
#blackouttuesday”
Muitos artistas globais se manifestaram a respeito dessas questões latentes em nossa sociedade. Os artistas independentes também. Um exemplo disso foi o ator, cantor e compositor paulista, Andre Lu, que atua na Cia. de Teatro “Os Satyros”, desde 2016, com a qual já participou dos espetáculos “Vida Bruta”, indicado ao Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem 2016 na categoria “Revelação - Elenco” e “Cabaret Fucô”, que participou do Wuhzen Theatre Festival 2018, na China.
Neste período de pandemia, Andre Lu idealizou o projeto “7M in 7D”. São sete músicas, uma para cada dia da semana, todas compostas por ele e que se relacionam com o momento atual. A ideia surgiu no começo de maio a partir de discussões e provocações de como criar algo nessa pandemia. Ele compôs uma música por dia ao longo de uma semana e como parte do projeto, pediu em todas as suas redes vídeos de artistas em quarentena que livremente poderiam mandar um vídeo fazendo algo em casa, desde cantar, dançar, até situações da rotina, como lavar louça, comer ou cuidar dos filhos.
Nessa primeira semana de junho, a partir da edição da artista de Bauru, Ana Evaristo, ele está lançando em sua conta do Instagram, ao meio dia, desde domingo (30/05), até sábado (06/06), o trabalho “7M in 7D”, todo dia um vídeo de pouco mais de um minuto que tem como título o dia da semana em que está sendo lançado.
O projeto está sendo pensado há pouco mais de um mês, mas como não poderia ser diferente em se tratando de arte, todo o trabalho, que teve participação de diversos artistas, se relaciona profundamente com os novos acontecimentos com os quais estamos lidando. O vídeo publicado no dia 2 de junho, intitulado “Denúncia de Terça”, foi de encontro ao movimento #blackouttuesday (terça feira preta, em tradução livre), ou até do movimento #OndaNegra, proposto por Elza Soares, que incentiva todos a ocupar a internet com a luta do movimento negro, visibilizando pessoas que historicamente são ocultadas. E como prova esse trabalho maravilhoso que pode ser conferido pela conta de Instagram @euandrelu, seguimos juntos, mesmo à distância.
Daiane Sousa e Sousa
Cientista Social e Atriz