Na semana passada, a mídia trouxe novidades sobre caso do ex-diretor do Departamento de Humor da Rede Globo, Marcius Melhem, acusado de ter cometido assédio sexual contra algumas atrizes, colegas de elenco da emissora. A revista Piauí relatou os pormenores de como Melhem teria agido e coagido, principalmente, a atriz Dani Calabresa que, depois de ter feito a denúncia, passou a ter comportamento depressivo.

Marcius Melhem nega as denúncias e diz que irá se defender na Justiça e processar Dani Calabresa e a advogada Mayra Cotta, que defende as vítimas. No entanto, a advogada afirmou em entrevista à CNN que o ex-diretor usou de sua posição hierárquica para assediar funcionárias. Segundo a advogada, Marcius Melhem chegou a “prejudicar as carreiras delas” e a “se vingar quando era rejeitado e usar da sua posição hierárquica para assediá-las sexualmente”. “Ele chegou a ser violento em alguns episódios”, completou.

Complicação

A julgar, não por um relato, mas por seis relatos, entre vítimas e testemunhas, a situação de Melhem é crítica e o ex-diretor da Globo deverá, mesmo, responder pelo crime. Ao UOL, Melhem chegou a chorar, durante uma entrevista, bem ao gosto daqueles que se fazem passar por coitado, como se fosse vítima de um complô organizado por mulheres ardilosas e vingativas.

A tática é bastante conhecida. Os assediadores usam desse expediente para criar a narrativa de “vida destruída” para tentar mudar sua imagem.

E completa, dizendo que gostaria de saber quem são as pessoas que fazem as denúncias para “se reparar”, diz. E Melhem prossegue indignado, “mas elas não mostram a cara”. Outro artifício utilizado para convencer os machistas criminosos de plantão: “se as vítimas não mostram a cara, é porque elas não existem!” E nem devem mostrar! Elas têm que entender o que é o assédio e como se defender.

Empresas não querem arcar com os custos

A Secretária Nacional de Mulheres da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Juneia Batista, acredita que a violência é sexista e contra as mulheres “somente pelo fato de serem mulheres. Não existe violência contra o homem pelo fato dele ser homem”, disse a sindicalista à CCN Notícias. Segundo a dirigente sindical, essa história remonta aos tempos em que os homens começaram a achar que podiam decidir sobre os corpos das mulheres, fato que se agravou com a revolução industrial (no século 19) e com o avanço do capitalismo que, entre outras coias, concede salários menores às mulheres, mesmo tendo trabalhos iguais aos dos homens. “Além de terem que trabalhar, as mulheres criam os filhos e cuidam de suas casas e quando vão buscar seus direitos encontram a violência”, explica.

Para Juneia, empresas, como a Rede Globo, não reconhecem o assédio, porque sabem que deverão ser solidárias às vítimas e a ressarcir os danos e isso requer arcar com custos que não estão dispostas. A Rede Globo, embora tenha recindido o contrato com Melhem, alegou outros problemas e, até hoje, não disse uma palavra sobre o assédio.

OIT

Na próxima quinta-feira, dia 10 – Dia Mundial dos Direitos Humanos – dirigentes sindicais mulheres de todas as centrais sindicais do Brasil irão debater a adoção pelo Brasil da Convenção 190 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e da Recomendação 260 que visam promover o trabalho decente, impulsionar a justiça social e a assegurar a igualdade nas relações de trabalho e eliminar a violência e o assédio no mundo do trabalho.

Juneia Batista acredita que, assim como fez a atriz Dani Calabresa, as mulheres, vítimas do assédio, precisam falar, ter a coragem de denunciar esse absurdo que, infelizmente, acontece todos os dias. “Cada vez que uma mulher, vítima do assédio, se cala, outras dez sofrem. Mas, quando uma fala, outras dez vão se prevenir e evitar o assédio”. A sindicalista disse que está em fase final a elaboração de um protocolo que será apresentada à Direção Nacional da CUT, nos próximos dias 15 e 16 de dezembro para ser adotado nas  instâncias da central. “Esse protocolo também quer acabar com qualquer tipo de assédio que, infelizmente, também existe no movimento sindical”, finaliza.