A população de mulheres transexuais e travestis, negras e também de Aṣé (que frequentam e estão nas religiões de matrizes africanas e afro-brasileiras) lutam, falam, gritam, verbalizam suas demandas. Porém, muitas pessoas cisgêneras (pessoas que se identificam, em todos os aspectos, com o seu gênero de nascença) acham que isso é autopiedade, coitadismo, autocomiseração ou vitimismo.

Vitimismo e ou autocomiseração é viver e conviver com uma sociedade branca cishegemônica heterossexista e patriarcal. É achar que as mulheres transexuais e as travestis, negras e também de Aṣé, não merecem ter suas vozes ouvidas, porque das suas vozes só saem palavras de ordem contra a intolerância transfóbica, machismo e racismo religioso.

Vitimismo e autopiedade é viver e conviver em uma sociedade cisheteronormativa que não aceita cotas para essa população, porque julgam uma mulher transexual ou uma travesti pela cor da sua pele e pela fé que professa. Se ela tem "boa aparência" ou porque ela é "passável".

As mulheres transexuais e travestis, negras e também de Aṣé, não são vitimistas. São heroínas. E, sobretudo, são sobreviventes, resistentes e resilientes. Sabem o por quê? Porque sobrevivem no dia-a-dia sabendo que o Brasil é o país que mais comete o transfeminicídio e travesticídio e também porque vivem no meio de tantas outras mulheres transexuais e travestis que querem seus cabelos mais lisos e suas peles mais claras para que as próximas gerações não sofram tanto preconceito, machismo, misoginia e transfobia.

As mulheres transexuais e travestis, negras e também de Aṣé, não são vitimistas.

Vitimistas são aquelas pessoas que não aceitam o dia 29 de Janeiro, como o “Dia da Visibilidade Trans”, e o dia 20 de Novembro como o “Dia da Consciência Negra e o Dia da Memória Trans”. E quando ainda faltam muitas pessoas brancas cisgêneras que não são conscientes dos seus privilégios cisnormativos brancos e de que as mulheres transexuais e travestis, negras e também de Aṣé, não existem para agradar ninguém.

O que queremos é respeito e dignidade!

Autoria
É formada em Serviço Social pela UNESP de Franca-SP; Pós-Graduada em Direitos Humanos e Sexualidade pela UERJ; Coordenadora Nacional da CONATT; Secretária Executiva Geral da ANTRA; Coordenadora Estadual do FONATRANS em São Paulo; Presidenta do Instituto APHRODITTE-SP; Integrante da Comissão LGBTI da ALESP; Coordenadora Adjunta do FPLGBTI e colaboradora do CCN Notícias.
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