Assim que o Ministro do STF, Celso de Mello, concedeu a divulgação do vídeo da reunião ministerial, a repercussão foi imediata. As redes sociais ficaram em polvorosa. O uso das hashtags com os nomes de Bolsonaro e membros do governo tomaram logo o topo de citações no twitter. Várias autoridades e entidades se manifestaram rapidamente. O vídeo foi usado como peça fundamental da acusação de Moro de interferência na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, por parte do Presidente Bolsonaro. As posições são variadas e diversas.

Os ex-aliados da base do governo federal, o MBL (Movimento Brasil Livre) se manifestou em suas redes sociais que o vídeo é uma importante prova na peça de acusação de Moro contra o Presidente. A possível interferência é comprovada na fala de Bolsonaro: "Já tentei trocar nossa segurança no Rio e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f* a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final!”. E também a maneira como olha para o até então Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro ao dizer essa fala. Isso é afirmado depois nas ações do Governo Federal. Após essa reunião, acontecem as demissões de Maurício Valeixo e Sérgio Moro, que possibilitaram a indicação de Rolando Alexandre de Souza. E a mudança na Superintendência da PF no Rio de Janeiro.

Por outro lado, há quem indique que o vídeo não seja forte o suficiente o para abalar ainda mais a imagem do Presidente. Sabrina Fernandes, doutora em Sociologia e criadora do canal do Youtube “Tese Onze”, afirma que a repercussão reverbera em dois sentidos. 1. Aqueles apoiadores mais convictos do governo não foram abalados. Pelo contrário, reafirma algumas das posições ideológicas defendidas, ao longo do mandato, por Bolsonaro;  a defesa do armamento civil, a oposição ferrenha às organizações e a governos de esquerda e o repúdio a setores da imprensa. 2. Ataques às autoridades que defendem o isolamento social no combate à COVID-19, confrontando o posicionamento de autoridades estatais que defendem o isolamento social.

Para Bolsonaro e sua base mais fiel, a quarentena é uma perseguição ideológica para destruir seu mandato. Contudo, o governo que vem perdendo parte do apoio que o elegeu, as pessoas que romperam recentemente podem se chocar com algumas das falas da reunião. Principalmente, na fala dos outros ministros. A posição de Paulo Guedes é um exemplo. Ao se referir a crise econômica, o Ministro da Economia compreende que o melhor é proteger as grandes empresas:“vai ganhar dinheiro usando recursos públicos para salvar grandes companhias. Agora, nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas”. Contrariando a base de eleitores do governo, composta por pequenos e médios empresários.

Nas redes sociais, os posicionamentos ganharam relevância também. A fala do Ministro da Educação, Abraham Weintraub, que na reunião ministerial se preocupou em analisar seu posicionamento assertivo às bases ideológicas do governo, criticando a concepção de povos indígenas e atacando os ministros do STF, não expõe as medidas educacionais que estão sendo palco de polêmica. A UNE (União Nacional dos Estudantes) e diversas entidades estudantis se posicionaram, sendo que já vinham criticando o ministro por manter o ENEM, a principal forma de acesso ao ensino superior público do país, mesmo após diversos estudantes não conseguirem continuar seus estudos durante a pandemia. A UNE analisou que apesar do vídeo dialogar com a base mais “fanática” de Bolsonaro, a maioria de população compreende a gravidade do vídeo.

A gravação foi feita ao mando do próprio presidente, segundo o jornalista Bruno Boghossian em entrevista ao podcast Café de Manhã da Folha de São Paulo, compreende o que vídeo deixa o governo mais transparente. Não só as formas de tomar decisões, mas também a essência sem moderação do mandato. Como a transcrição de trechos da reunião já havia sido divulgada pela Advocacia-Geral da União, para o jornalista não teve sensação de impacto. Contudo, a gravação é uma peça do quebra-cabeça do processo. É preciso analisar todas as provas e andamento do processo, assim, o vídeo mostra sua força.

Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos.

 

Thais Linhares

Cientista Social e mestranda da Unesp