O Diário Oficial do Estado publicou, dia 13 de janeiro deste ano, o decreto nº 65.463 de autoria do governador João Doria, suspendendo concursos públicos em toda administração direta e autarquias do Estado até 31 de dezembro de 21. A justificativa foi a pandemia do novo coronavírus.

Os concursos que estavam em andamento foram devidamente paralisados. Até mesmo as posses e contratações de estagiários foram interrompidas. Conclusão, milhares de jovens foram impedidos de iniciarem suas vidas profissionais. Com a nova situação sombria, sobretudo de desesperança, a depressão e a ansiedade entre os jovens dobraram durante este período, segundo especialistas.

A crueldade do decreto do governador ainda obrigou os nossos jovens a pararem de estudar, porque, como é sabido, o Estado não foi capaz de fornecer as mínimas condições para que as aulas online fossem extensivas a todos os estudantes. Jovens sem estudos, sem estágios, sem esperança e desempregados.

Mas, como dizia Cazuza, “a burguesia fede”. E não é que o governador encontrou um “jeitinho” de burlar o seu próprio decreto e arranjar uma boquinha para o pequeno Tomás? Quem é Tomás? É o filho do ex-prefeito Bruno Covas, falecido em maio desse ano.

Tomás tem apenas 16 anos de idade. Ainda cursa o ensino médio, mas já tem um futuro garantido pelas mãos do privilégio e da desfaçatez que, há 26 anos, impera em São Paulo pelas vias tortuosas da dinastia tucana.

Doria pensou, pensou e descobriu como fazer: pedir a uma organização não governamental que contratasse o garotão e, indiretamente, o colocasse como “estagiário” dentro do Palácio dos Bandeirantes. O anúncio foi feito em vídeo pelo próprio governador, no último dia 10 de agosto. O menino vai iniciar um programa de estágio “por todas as áreas” do governo, segundo anunciou Doria.

Veja você, jovem que lê este artigo; ao mesmo tempo em que você se angustia com a falta de perspectiva, o privilegiado meninão, filho do ex-prefeito e neto de ex-governador, acompanhará João Doria, pra cima e pra baixo, e participará até das reuniões do Secretariado, além de acompanhar as rotinas do secretário de Dória, do chefe da Casa Civil, e pelas secretarias de finanças e de governo. Não há nada na legislação que justifique um estágio desse tipo e nem remuneração. É privilégio, mesmo!

Se Bolsonaro tem seus filhos que se metem em tudo, até com compra de vacinas superfaturadas como está investigando a CPI da Covid, Doria arranjou um jeito de ter um pupilo seu ao seu lado e prepará-lo para ingressar na política em poucos anos.

Talvez, Doria quer ensinar ao menino com seu avô investia contra os professores, ao autorizar a Tropa de Choque da PM a agredir a categoria em greve em 2000 ou, então, como o seu pai cortou o passe dos idosos de 60 a 64 anos. Tomás já é filiado ao PSDB.

A bancada do PT na Assembleia Legislativa deveria lutar pela derrubada do Decreto do governador que proíbe a contratação de estagiários e denunciar ao Ministério Público esse escárnio e safadeza do governador contra a nossa juventude.