Atualmente, acompanhamos um crescimento intenso do esforço em favor da aceitação do próprio corpo. Movimentos como o “body positive” envolvem digital influencers e artistas em diversos lugares do mundo com o propósito de promover o amor próprio e autoestima entre pessoas consideradas "fora" do padrão físico exigido ou aceito pela sociedade.

O espaço reservado para as pessoas gordas sempre foi bastante limitado e/ou inexistente. O cinema, muitas vezes, apresentou (e ainda apresenta), personagens caricatos. Geralmente, homens e mulheres são melhores amigos, funcionários engraçados, indivíduos atrapalhados. Tais sujeitos ocupam um espaço secundário nas tramas. Nesse contexto, a presença de personagens gordos está ligada a um padrão de beleza bastante diferente, em que sua valorização relaciona-se com a possibilidade de futuramente estar magro e, portanto, ser aceito pela família, amigos ou grupo social.

 Contudo, recentemente, esses filmes que marcaram a década de 90 e o início dos anos 2000 passaram a ser criticados e vistos como parte de uma cultura preconceituosa e que continua atribuindo valor às pessoas, a partir de estereótipos físicos. Hoje, muitos desses filmes ou séries são vistos como ferramentas da gordofobia, tema tão caro aos nossos dias e que envolve, inclusive a ideia de saúde.

Por outro lado, há uma crescente valorização de modelos plus size femininas e masculinas, bem como canais de YouTube que produzem conteúdo para esse público, evidenciando a moda e beleza desses corpos. O último São Paulo Fashion Week, ocorrido entre os dias 16 e 20 de novembro de 2021 foi marcado pela diferença de corpos, incluindo uma modelo gorda.

Novelas e filmes, ainda engatinham no que se refere a humanização do corpo gordo, mas é possível perceber que por trás de personagens ainda marcados pela comédia, há novos discursos em voga. A possibilidade dessas pessoas serem bem sucedidas no mercado de trabalho, no campo intelectual e afetivo antes era quase invisível, frente a necessidade de ter um corpo magro.

Tais avanços, que ainda são pequenos e precisam continuar existindo, só foram e são possíveis, porque homens e mulheres se empenham diariamente em mostrar que cada corpo é um corpo e que um corpo é apenas um corpo.

É necessário discutir sobre esse tema, normalizando a ideia de que corpos são diferentes e que as pessoas não devem ser reduzidas ao seu corpo. Além disso, movimentos como body positive deixam claro a necessidade de combater urgentemente o ódio ao próprio corpo e promover o acolhimento desse que se faz presente em todos os momentos de nossas vidas.

Esse texto, tinha como objetivo alertar ao leitor para a urgência que existe sobre esse tema e como todos devem fazer parte desse processo de reflexão. Pessoas magras são convidadas a desconstruir preconceitos para enxergar o diferente sem estereotipá-lo. Já as pessoas gordas, em seus lugares de fala, devem aprender a valorizar seus corpos, ocupar seus espaços na sociedade e continuar sendo porta-vozes desse movimento que ainda tem muitas conquistas a realizar. O lugar da pessoa gorda é o lugar ser humano, ou seja, no lugar que ela quiser.

Autoria
Aline Ribeiro é Mestre em História pela Universidade Federal de São Paulo e aluna de doutorado pela Universidade de São Paulo. Atualmente, trabalha como professora de História em escolas de Ensino Fundamental II e Médio.
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