No mesmo instante em que o noticiário aponta que o estado de São Paulo registrou, na terça-feira (9), um novo recorde de mortes em decorrência da Covida-19, com 334 óbitos em 24 horas, elevando o número de mortos para 9.522, o governador de São Paulo e o Prefeito da Capital, Bruno Covas, ambos do PSDB, iniciaram a quarta-feira, 10, a reabertura gradual do mercado e do comércio na Capital e no Interior.

A medida contraria pesquisa de opinião pública realizada pelo Ibope via internet, divulgada também nesta terça, quando 67% da população não concorda com a reabertura do comércio, agora. Para 76% ainda não está na hora de relaxar o isolamento social na cidade. Apenas 27% dos paulistanos apontam como prioridade a preocupação com a economia. A grande maioria, por tanto, prioriza a saúde da família e o medo de que o sistema de saúde entre em colapso.

A pergunta que fica é; se o povo é contra a reabertura do comércio e prioriza a saúde da família, por que, então, não aderiu em massa ao isolamento social? Ibope ouviu que a maioria dos entrevistados aponta que o governo deveria ter agido com mais firmeza. As medidas deveriam “viabilizar a garantia de emprego e renda para que as pessoas não precisassem sair para trabalhar” (46%); “aumentar a fiscalização de estabelecimentos comerciais que abrissem sem autorização” (40%); e “restringir a circulação de pessoas nas ruas apenas para atividades essenciais” (39%).

A pesquisa também apontou que 87% dos paulistanos consideram que a pandemia deixou claro que a cidade de São Paulo precisa investir na redução das desigualdades. Um dos fatores é que 60% das UTIs estarem concentrados em apenas três distritos da cidade. Ou seja, os mais vulneráveis foram os mais prejudicados.

Diante desse relaxamento, o governador João Doria Jr. e o prefeito Bruno Covas tiveram uma queda significativa em suas respectivas avaliações pela opinião pública. De 68% positivo, em maio, para 51%, agora. A população apontou as trapalhadas e fracassos do novo rodízio e o próprio relaxamento da quarentena como causas da queda.

Os próprios aliados políticos do governador avaliam que o Dória errou ao ceder às pressões do setor empresarial. Como noticiou o CCN Notícais, o governador disse, dia 20 de maio, que tinha um protocolo de “lockdown” prontinho. Era só por em prática. Mas, cinco dias depois, surpreendeu a todos ao falar da reabertura, mesmo garantindo que a quarentena continua até 28 de junho.

Capitais que abriram, mas tiveram que fechar de novo!

O prefeito de Porto Alegre, RS, Nelson Marchezan (PSDB), voltou atrás e decidiu, na segunda (8), a brecar a flexibilização, porque a ocupação dos leitos de UTIs por pacientes com Covid-19 aumentou muito (78,5%). Não há previsão para o comércio e outras atividades voltem a abrir.

No Rio de Janeiro, a Justiça anulou trechos de decretos assinados pelo governador Wilson Wtizel (PSC) e o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) que flexibilizavam o isolamento social. Ação do Ministério Público e da Defensoria Pública do Rio de Janeiro questionam os critérios e evidências científicas que embasaram a reabertura. Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro indicam que há necessidade de bloqueio total (lockdown), em áreas do estado do Rio de Janeiro.

No Distrito Federal, as cidades de Ceilândia, Sol Nascente, Pôr do Sol e Estrutural, que têm os maiores índices de casos da Covid-19 permanecerão com as atividades essenciais e não essenciais fechadas.

Na contramão...

No entanto, indo na contramão da história, o presidente Jair Bolsonaro defendeu, na manhã desta terça-feira (9), a reabertura total do mercado, inclusive de escolas, mesmo contrariando recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) que anuncia um agravamento mundial da pandemia em diversos países, inclusive no Brasil.

Bolsonaro motivou-se em propor a reabertura total, distorcendo a declaração do chefe do programa de emergências da OMS, Maria van Kerkhoven, segundo o qual é “raro” pessoas assintomáticas transmitir o novo coronavírus. Mas, Bolsonaro não falou que os “pré-sintomáticos”, como disse a van Kherkhoven, podem transmitir.

Bolsonaro parece acreditar mais em quem, messianicamente, acredita que encontrou a cura para a Civid-19 no “enxofre” ou no consumo de “alho cru”, do que seguir os protocolos médicos e cinentíficos.

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Sérgio dos Santos

Jornalista