Há exatos 57 anos, as Forças Armadas, sob patrocínio de empresas multinacionais, bancos, latifundiários, da mídia, do Judiciário e de ampla maioria do Congresso Nacional, marchavam rumo ao Palácio do Catete, sede à época do governo federal, no Rio de Janeiro, para depor o presidente eleito João Goulart e instalar a mais perversa e sanguinária ditadura militar no país. Centenas de milhares de brasileiros que se opuseram às patranhas das FFAA foram perseguidos, presos, torturados e mortos. O país foi saqueado e mergulhado na fome, na subserviência, na dívida externa e no obscurantismo.

Esse tenebroso passado encontrou um grande obstáculo na redemocratização, após a Constituição de 88. No entanto, as feridas da estupidez jamais foram fechadas. O País reencontrou-se consigo mesmo. Ares da modernidade, enfim, chegaram à mesa do brasileiro. A democracia podia ser respirada e praticada. Governo e oposição passaram a conviver respeitosamente e o Brasil, de país periférico, passou a ser respeitado e guindado a uma das maiores economias do mundo.

Mas, como a estupidez não tem fim e a ignorância parece ser eterna, hoje, 31 de março de 2021, 57 anos depois, o País está novamente às voltas com o terceiro-mundismo. A elite brasileira, após patrocinar novo golpe contra Democracia, ao depor torpemente a presidenta eleita Dilma Rousseff, em 2016, e eleger sob a égide da fakenews e do terraplanismo, Jair Bolsonaro, um ex-tenente expulso do Exército por terrorismo, e ex-deputado, há 30 anos sem apresentar um único projeto de lei, mergulhou o Brasil de vez nas águas de mediocridade, transformando-o em e pária internacional.

As Forças Armadas, completamente desmoralizadas por Jair Bolsonaro, fruto dos terríveis anos do Golpe Militar, novamente saem das catacumbas para anunciar que o 31 de março deve ser “celebrado”. Como? Exibindo em praça pública o que faziam para arrancar confissões dos presos políticos? Como fizeram para financiar o “milagre econômico”, no início da década de 70, e jogar milhões de brasileiros no desemprego e na fome? Vão celebrar a censura na imprensa (embora a Rede Globo, a Folha de S. Paulo e o jornal O Globo tenham aplaudido), nas artes, nas ciências, nas universidades? Vão mostrar aos seus cabresteiros como dizimaram dezenas de Nações indígenas que “atrapalhavam” a exploração do minério e da madeira de suas terras? Vão mostrar como desviaram milhões de reais do Fundo de Garantia para a construção de obras faraônicas?

Não há o menor sentido na atitude do Comando das FFAA e do Ministro da Defesa em querer celebrar o golpe militar. Não se comemora a ditadura, a morte, a tortura. Não se celebra a corrupção, a ignorância e obscurantismo.

Aliás, é preciso dizer que esse governo está desmoralizado e chafurdado na própria lama das lambanças que protagonizou. O Brasil está em caos econômico, social, sanitário, cultural e político. O Comando das FFAA pediu demissão do governo, algo inédito da história Republicana do país. Um novo Comando, subserviente a Bolsonaro, assume e a roda da ignorância volta ao mesmo e tenebroso passado. Mas, diferentemente de 64, Bolsonaro está só. Ele e as marmotas que o seguem.