A estupidez parece, finalmente, ter encontrado o seu ápice e começa a recuar. Pelo menos, é o que indica as últimas pesquisas de opinião e as declarações de pessoas influentes e que tiveram ação decisiva para a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, no pós-golpe.

A revista Exame dessa sexta-feira, 22, traz pesquisa do Instituto Ideia que mostra queda abrupta de Bolsonaro. Em apenas uma semana, a reprovação pessoal do presidente aumentou de 37% para 45% das pessoas. Seu governo também vai para o mesmo buraco: de 34% para 45% entre os que reprovam. A pesquisa foi feita entre os dias 18 e 21 de janeiro em todas as regiões do país. A margem de erro é de 3 pp.

Quem o aprovava também está mudando de opinião. Caiu de 37% para 26%, a maior queda semanal desde o início do seu governo.

Os efeitos da crise de saúde pública em Manaus ainda vão impactar mais ainda na avaliação popular.

Se a população começa a enxergar com outros olhos o que, de fato, significa, Bolsonaro na presidência da República, a elite empresarial do País também já encontra na gestão Bolsonaro um obstáculo inadmissível aos seus interesses.

A perplexidade é generalizada. "Do lado da saúde, não está passando segurança. Do lado da economia, as coisas não andam", afirma o empresário José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico e vice-presidente da Fiesp.

"Entendemos que nada irá acontecer nesse País enquanto a população não estiver vacinada", afirmou o presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), José Roberto Tadros. "Até porque muita gente não compreendeu a gravidade: há aglomeração em todo canto e desprezo à máscara", acrescentou, ao criticar a incompetência do governo federal.

"Existe uma omissão de gente que está olhando para o seu umbigo", criticou o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins.

Empresários, reunidos no movimento Coalizão Industrial, divulgaram dois manifestos do setor. O primeiro, pede “reformas já”, e o segundo, “prioridades aos brasileiros”, quando pedem políticas de Estado e não de governo.

O presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese, e o cofundador dos Cosméticos Natura, Pedro Passos, também criticaram a gestão Bolsonaro em relação ao combate à Covid-19 e ao governo. "O governo tem de dizer o que o empresário deve fazer: é para emprestar caminhão para carregar vacina, treinar gente, contratar consultoria, planejar logística?", questionou Passos.

O presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Vander Costa, disse que setor está disposto a ajudar gratuitamente na distribuição de vacinas em todo o Brasil. “Estamos prontos para colaborar na distribuição das vacinas contra a Covid-19. Basta o governo solicitar o apoio.

Em uma ”live” realizada nesta quinta-feira, 21, entre todos os ex-ministros da Saúde, desde o governo Lula, a empresária Maria Luíza Trajano, dona da Magazine Luiza, convidada especial, não precisou de “orientações” de Bolsonaro para agir. Disse que está organizando um grupo de 70 empresárias mulheres em todo o País para ajudar a Secretaria Estadual da Saúde do Amazonas para a aquisição de cilindros de oxigênio. As CUT e outras centrais sindicais já entrou em contato com o governo da Venezuela para agirem conjuntamente na distribuição do oxigênio que o governo de Nicolás Madura doou ao Amazonas.

Tudo é uma questão de prioridade, ação e princípios. Enquanto artistas, juristas, empresários, intelectuais e dirigentes sindicais se movimentam para fazer o que Bolsonaro não faz e recusa-se a fazer, a elite brasileira que financiou e promoveu o golpe de Estado de 2016 reclama.

Com muito atraso, o jornal O Estado de S. Paulo, que em editorial às vésperas das eleições de 2018, disse ser “uma escolha difícil” entre Bolsonaro e Haddad, hoje, 22, em editorial, pede, pela primeira vez, o impeachment de Bolsonaro. "Existem, assim, 56 pedidos sobre a mesa do presidente da Câmara dos Deputados, a quem compete verificar o preenchimento dos requisitos legais e, se for o caso, submetê-los à apreciação de comissão especial, composta por representantes de todos os partidos (...)

(...) A maioria das denúncias contra o presidente da República por crime de responsabilidade ocorreu precisamente em função de sua conduta no enfrentamento da crise sanitária. Depois de quase um ano de pandemia, Jair Bolsonaro deu mostras mais que suficientes de que não vai mudar. O Direito e a Política dispõem de instrumentos para sanar essas situações. Que o presidente da Câmara não tenha receio de usá-los. O País não pode ficar refém de alguém que despreza não apenas a Constituição, mas a vida e a saúde de sua população", escreve o Estadão.

A Folha de S. Paulo, outro jornalão que apoiou o golpe de Estado de 2016, agora lista os possíveis 23 crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro e adere ao impeachment.

"Colapso em Manaus e a derrapada na vacinação fortalecem base jurídica para impeachment de Bolsonaro", diz manchete em letras garrafais. "A Folha compilou ao menos 23 situações em que Bolsonaro, em seus dois anos de governo até aqui, promoveu atitudes que podem ser enquadradas como crime de responsabilidade, e que vão da publicação de um vídeo pornográfico em suas redes sociais no Carnaval de 2019 aos reiterados apoios a manifestações de cunho antidemocrático", aponta o texto.

Em seguida, a Folha cobra do Ministério Público Federal e do Congresso Nacional, investigação sobre o texto divulgado pelo Procurador-Geral da República, Augusto Aras, em que afirma ser responsabilidade do Congresso analisar crimes cometidos por Jair Bolsonaro nesta pandemia.

Enquanto isso, secretários de saúde, prefeitos e outros penetras furam a fila para vacinarem-se contra a Covid-19. Muitos dos quais, sempre fizeram pouco caso e até mesmo não ajudaram a população a protegerem-se contra o coronavírus.

O governador de São Paulo, João Dória Jr. teve a desfaçatez de convidar a ex-presidenta Dilma Rousseff, golpeada em 2016, para “furar a fila”, o que foi prontamente, negado. Além disso, trabalhadores da saúde denunciam que HC, em São Paulo, foi privilegiado com a vacinação e penetras, políticos e gente que não tem nada a ver com a linha de frente no combate ao coronavírus estão sendo vacinados e postando fotos nas redes sociais.

Para concluir, o governador insiste, mesmo ele mesmo tendo decretado a “Fase Vermelha” em todo o Estado, fazer professores, alunos e todos os funcionários da Educação voltarem às aulas presenciais em fevereiro. “Isso é inadmissível”, protestou a presidenta da APEOESP e Deputada Estadual, Professora Bebel, em ato público organizado pela entidade dos professores, hoje, 22, pela manhã, em frente à Secretaria de Educação.