A revista Época da semana passada publicou uma reportagem exclusiva, cujo conteúdo pode ter revelado o maior escândalo da história da República: a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) - instituição pública e mantida com verbas públicas - teria feito relatórios orientando o Senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a como agir no caso que envolveu seu ex-assessor, Fabrício Queiroz, ainda quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.

A Abin teria orientado os advogados de Flávio a solicitarem documentos que embasariam um pedido de anulação do chamado “Caso Queiroz” e, consequentemente, livrar o senador da perda do mandato e de responder na Justiça pelo crime.

O Caso Queiroz ficou conhecido como aquele em que o ex-assessor do hoje Senador teria intermediado uma coleta ilegal de parte dos salários dos seus funcionários, conhecido como “rachadinha”.

A reportagem da revista Época mostra que a Abin municiou os advogados do senador sobre como a Receita Federal conseguiu os dados fiscais de Flávio, cujo relatório deu origem ao inquérito. A tese é sustentar a ideia de que houve uma investigação ilegal, dentro da Receita, nas contas de Flávio Bolsonaro.

O escândalo da Abin coloca por terra a narrativa traçada, desde o golpe de Estado de 2016, até a eleição de Bolsonaro, segundo a qual não haveria mais corrupção no governo se o PT fosse afastado da presidência da República e do cenário político nacional. No entanto, abocanhar recursos públicos em proveito próprio é demonstração e prova de corrupção.

A Procuradoria-Geral da República está apurando os fatos. Apura também se o presidente Jair Bolsonaro tem usado a Abin para defender o seu filho.

A investigação foi aberta após notícia da existência de uma reunião entre Flávio e seus advogados com o presidente da República, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e o diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem.

A suspeita é que, na verdade, haja um aparato clandestino de espionagem e polícia política funcionando dentro da própria Abin. A hipótese vêm desde a fatídica reunião ministerial do dia 22 de abril, em Brasília, quando o presidente Bolsonaro, ao reclamar da Polícia Federal, disse ter um “sistema particular de informações”. Seria uma Abin clandestina?

Segundo o site The Intercept Brasil, uma fonte de dentro da Abin revelou que o Agente da Polícia Federal Marcelo Araújo Bormevet, cedio à Abin, desde setembro de 2019, período em que foram feitos os relatórios para os advogados de Flábio Bolsonaro, teria sido o autor desses relatórios.

Impeachment

O Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal classificou o envolvimento da Abin como “inaceitável em todos os sentidos” e é preciso uma reação imediata dos órgãos públicos, do Congresso Nacional e de todo a imprensa”, diz em nota o presidente Kleber Cabral.

Se for confirmado que Jair Bolsonaro usou a Abin para interesses exclusivamente pessoais, isso não só caracteriza crime de improbidade administrativa e de responsabilidade, como é passível de impeachment. A tese é do governador do Maranhão, Fábio Dino (PCdoB-MA), que também é ex-juíz.