Rosana dos Santos Augusto, a nossa Rosana, nasceu na Casa Verde Alta, Zona Norte de São Paulo. Aos seis anos de idade, Rosana iniciou seus primeiros dribles e gols pelas ruas do bairro. E não parou mais. Tornou-se multicampeã, medalhista olímpica e “lenda do futebol feminino”, uma honraria conferida pela FIFA.

Ainda garotinha, mudou-se com a família para o bairro do Imirim. Lá também exibia seu talento na bola, junto com os meninos. Aos 11 anos, já disputava torneios pelo time de futsal da escola. Rosana chamava a atenção de todos por ser dona de uma técnica peculiar, aliada à força física.

Aos 14 anos foi convidada a fazer um teste no São Paulo FC. Aprovada, Rosana deu início à sua brilhante carreira profissional. À princípio na lateral esquerda, mas hoje é centroavante do Palmeiras. Por sua atuação no campeonato brasileiro, foi convocada para a Seleção Brasileira, em 1999, pela primeira vez. Tinha apenas 17 anos de idade.

Rosana é, com certeza, uma das atletas com a maior diversidade de títulos da história do futebol mundial. Além de ser medalhista Olímpica (campeã dos Jogos Pan-Americanos e vice-campeã do mundo), acumula títulos na Champions League, na Libertadores da América, na Liga Norte Americana, no Mundial de Clubes, na Copa da França, no campeonato austríaco, no campeonato Sul Americano e no campeonato brasileiro. Rosana, foi a única mulher a receber o “FIFA Legends” (Lendas da FIFA). O prêmio foi concedido ano passado, na final da Copa do Mundo Sub-17, no Estádio Walmir Campelo Bezerra, o Bezerrão, em Gama, DF.

A nossa atleta casaverdense também tem em seu currículo um jogo beneficente na Inglaterra, promovido pela UNICEF e teve ao seu lado personalidades do esportes como Usain Bolt, Roberto Carlos e Eric Cantona.

Rosana sempre foi disciplinada e sempre buscou ir atrás dos seus objetivos. Em uma entrevista recente, a jogadora afirmou que sua carreira na Europa foi facilitada pela sua disciplina dentro e fora de campo. “Muito disciplinada, sempre gostei de estudar e de aprender.  Sempre fui bem no colégio e isso me ajudou. Esse desenvolvimento da mente me ajudou nas tomadas de decisão dentro de campo. Acho que isso facilitou meu processo na Europa, porque lá é um jogo mais estratégico e organizado e é importante aliar educação ao esporte”, diz a atleta.

São 18 anos dedicados à Seleção Brasileira ao lado de atletas como Marta, Cristiane, Formiga e Sissi, entre outras. Ganhou duas medalhas de prata em jogos olímpicos (2004 e 2008), uma prata no mundial da China (2007), dois ouros nos jogos Pan Americanos (2003 e 2007) e dois ouros no Sul Americano (2003 e 2010).

Nossa Multicampeã já atuou por diversas equipes do mundo: São Paulo FC, Corinthians, Lion e Paris- Saint-Germain (França), North Carolina Courage e Sky Blue FC (EUA), Avaldsnes IL (Noruega), SV Neulengbach (Aústria), entre outros. Rosana atualmente está com 38 anos e defende as cores da S.E Palmeiras.

Apesar de multicampeã, ser um ícone no esporte e uma inspiração para meninas que sonham em seguir na mesma carreira profissional, Rosana ainda não teve o devido reconhecimento da grande imprensa e da própria CBF.

CCN - Quais as principais dificuldades que você enfrentou no início da carreira?

Rosana - As principais dificuldades foram o preconceito, a pouca estrutura e a falta de apoio. Mas a gente vê que isso hoje está mudando. O futebol feminino está em ascensão. Está em outro momento. Mas lá na década de 90 tinham menos clubes e as pessoas conheciam menos.

CCN- O que falta para o futebol feminino ter o destaque e um olhar com equidade se comparado ao futebol masculino?

Rosana - O futebol feminino teve uma proibição de 40 anos. Então, nós podemos dizer que é uma modalidade nova. Vai demorar um pouco pra ter essa equiparação com o masculino. Acho que está caminhando ainda devagar, porque não é uma luta só do futebol feminino; é uma luta da mulher na sociedade, e o futebol feminino vem, na verdade, pra quebrar essas barreiras e ajudar outras mulheres a conseguirem cargos melhores e de mais importância.

CCN- Qual foi o grande momento do futebol feminino brasileiro?

Rosana - Eu acho que o grande momento foi de 2004 até 2008, quando a Seleção Brasileira conquistou medalhas muito expressivas, sendo 2 medalhas em olimpíadas, em 2004 e 2008, e uma medalha de prata no mundial. E Seleção tinha muito menos estrutura do que as outras seleções de ponta. Eu acho que essa geração ficou marcada e entrou para história pelo que fez. Mas, em relação à estrutura e o crescimento, acho que o ano de 2019 foi um marco, por conta do Mundial a grande audiência que teve, com mais de 52 milhões de pessoas acompanhando a Copa de Mundo. Isso justifica o investimento que está sendo feito pela FIFA, CONMEBOL e CBF agora no futebol feminino.

CCN- Quando você se aposentar, pretende seguir no futebol?

Rosana - Pretendo seguir carreira no futebol sim! Eu já fiz cursos de treinadora e cursos de gestão. É o esporte que eu cresci e vivi e toda minha trajetória foi nele. Então, acho que tenho uma obrigação moral de retribuir tudo isso e contribuir pra uma evolução do futebol feminino no Brasil e no mundo.

CCN- Em 2019, você foi condecorada como lenda do futebol feminino pela FIFA, está honraria somada à sua representatividade e conquistas pelo futebol feminino faz você crer ser merecedora de um reconhecimento maior, tanto pela CBF como pela imprensa esportiva?

Rosana - Eu acredito que sim, porque se o maior órgão do futebol, a maior entidade que é a FIFA fez essa honraria, porque não receber isso também da imprensa e da CBF? Acredito que poderia ter sido, sim, mais reconhecida e mais valorizada perante à imprensa, à federação e à confederação.