O Estado de São Paulo voltou, nesta segunda-feira, 12, à “fase vermelha” do Plano São Paulo de controle da pandemia e retomada econômica. O anúncio foi feito na última sexta, dia 9, pelo governador João Dória Jr. A maioria dos serviços presenciais e a proibição às aglomerações continuam, mas com algumas modificações: atividades esportivas foram liberadas, sem a presença do público, lojas de materiais para construção poderão abrir e os consumidores poderão retirar alimentos diretamente nos restaurantes e lojas.

Atividades culturais, shoppings, lojas, comércio de rua, salões de beleza e barbearias, universidades, academias esportivas, parques, concessionárias, templos e igrejas, e atividades que proporcionam aglomeração permanecem fechados.

A construção civil, a indústria e as escolas da rede estadual podem voltar a funcionar dentro de critérios. A decisão sobre a volta das atividades presenciais das escolas das redes municipais e particulares ficarão a cargo dos prefeitos.

E aí está o ponto. Nem todos já tomaram a vacina. Pelo contrário. Somente 10,9% da população do País foi vacinada. Em São Paulo, 11,7% tomaram a primeira dose e apenas 4,7% tomara a segunda dose, segundo levantamento do Consórcio de Veículos de Imprensa, a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde, divulgado neste domingo, 11.

O fato é que, por essas razões, ninguém ainda pode ser considerado imune à Covid-19, mesmo vacinadas.

Os especialistas apontam, por exemplo, o caso do cantor Aguinaldo Timóteo que contraiu o coronavírus entre uma dose e outra da vacina e veio a óbito no último sábado, dia 2 de abril. A infectologista do Instituto Emílio Ribas, Rosana Richtmann, explica que o cantor antes de receber a segunda dose estava, em teoria, parcialmente ou muito pouco protegido. A médica afirma que uma pessoa só é considerada “protegida” apenas duas ou três semanas (de 15 a 21 dias) após receber o número de doses recomendadas (duas no caso da Coronavac e da Astrazeneca).

O risco de contágio ainda é alto. Segundo o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, será possível assistirmos muitos indivíduos contraírem a Covid-19 após tomar só a primeira dose ou antes de completar duas semanas após a segunda.

A microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência Natalia Pasternak explica que as vacinas não são mágicas e não são uma estratégia individual, por isso é necessário observar a população em geral. Quanto mais gente vacinada e protegida com o uso da máscara e do distanciamento social, melhor. Com uma porcentagem de vacinação ainda muito pequena, a contaminação ainda será alta e frequente.

Então, por que abrir as escolas agora?

Segundo o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, as aulas presenciais terão retorno gradual a partir da próxima quarta-feira, dia 14 de abril. Já nas redes municipais, as voltas dependerão dos prefeitos. Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas (PSDB) confirmou a volta já nesta segunda, 12.

Embora o governo estadual tenha decretado que a educação é um serviço essencial e, por isso, poderia voltar às aulas presenciais em qualquer fase do plano, os professores da rede estadual estão com os dois pés atrás. O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) está orientando os mais de 180 mil professores filiados a não voltarem às aulas agora. A entidade defende que todos os professores sejam vacinados, independentemente da faixa etária. O governo só liberou a vacinação para profissionais com idade igual ou superior a 47 anos. Assim, milhares de professores estarão fora do plano de imunização por enquanto.

A entidade diz ainda que a Sentença Judicial proferida a seu favor pela juíza Simone Caoretti, além de estar em pleno vigor e deve ser acatada pelo governo, determina que “não poderá haver volta de atividades e aulas presenciais nas escolas estaduais, municipais e privadas nas fases vermelha e laranja e enquanto não houver a vacinação de todos os profissionais da Educação”.

Por tanto, nenhum professor está obrigado a comparecer às escolas neste momento da pandemia. Além disso, a Apeoesp lembra que a Sentença menciona a necessidade das escolas ter condições sanitárias para receber os alunos de volta, o que não aconteceu nesses mais de um ano que estiveram fechadas.

A Sentença vigorará até que o Tribunal de Justiça julgue o recurso de apelação que o Estado interpôs. Para a Apeoesp, o decreto do governador que declara a educação essencial e, assim, forçar a volta das aulas presenciais, quando já se contam 2.359 casos de infecção, que resultaram em 69 óbitos pela Covid-19 (incluindo dois estudantes) é, na verdade, uma tentativa de burla à Sentença Judicial e um descaso com a vida dos professores e alunos.

Preocupados, professores da Zona Norte estão com receio em voltar às aulas presenciais nessas condições. O CCN Notícias quis saber de professores se estão ou não seguros em voltar às aulas agora. A Professora Patrícia explicou direitinho o que acontece: “o organismo demora de 5 a 10 dias para identificar o antígeno e iniciar a produção de anticorpos específicos. A vacina introduzirá esse processo que se inicia nesse período. A dose de reforço, a segunda dose, intensificará o processo. Assim é necessário esse tempo para o organismo reagir. Estar imunizado quer dizer que tem anticorpos para combate e não que está isento de contrair o vírus”.

Já a Professora Rosa, está preocupada, já que tomou a Astrazêneca e só vai tomar a segunda dose em 10 de julho, conforme orientação. Sem falar na preocupação da Professora Ilma em relação às variantes da Covid-19. A Professora Sandra, cujo marido é técnico em enfermagem, garantiu que “só a partir de 20 dias da segunda dose é que a gente pode se considerar imunizados”. Todas essas professoras são da EE Paulo Egídio de Oliveira Carvalho. São quatro declarações que talvez permeie mentes e corações de mais de 200 mil professores, além de outros tantos trabalhadores da Educação em todo o Estado, incluindo aí, profissionais das redes municipais e privadas de ensino.